May 24, 2002

Hoje me peguei tentando classificar o Tom Waits pra alguém que perguntou como é. Me dei conta do ridículo em seguida e desisti. Se eu nunca fiz isso na minha vida não tenho porque começar agora. Música se ouve, não se explica. Quero dizer, até se explica, mas é tããão chato.

É engraçado pensar que eu sempre gostei de tantas coisas sem nunca ter tomado consciência do rótulo, título, subtítulo, ideologia, tribo e classificação que vêm junto. É, sem noção forever. Por exemplo, eu fui uma criança que cresceu ouvindo e adorando Suzi Quatro (é, meu pai tinha um vinil da Suzi Quatro! Dad rocks!) entre outras coisas, mas nunca, NUNCA pensei do alto dos meus quatro anos, "Eu ouço rock! Eu sou uma menininha de quatro anos punk. Yeah.". Foi uns vinte anos depois, quando comecei a ser classificada como uma pessoa "cool" pelas pessoas-bizarras-que-decidem-se-você-é-uma-pessoa-"cool"-através-do-seu-gosto-musical-modal-cinemal que eu parei pra pensar em O QUE era tudo de que eu gostava. File under what? Minha reação nessa hora deve ter sido mais ou menos "Ah, bon?"

Eu não sou muito de prestar atenção nessas coisas. Resenhas que classificam imediatamente uma banda como "isto34" e "aquilo77" me aborrecem terrivelmente. Simplista demais achar que uma palavra, um rótulo pré-existente expressa exatamente o que uma música é. Adorava Peter, Paul and Mary mas não sabia que é "folk". Amava a Doris Day e a Judy Garland mas não sabia que eram "cantoras de jazz". Ouvir Pistols e Ramones o dia todo não me faz "punk". E achava engraçado me chamarem de "moderna" porque ouço isso e aquilo. Rótulos são uma bênção pra quem não tem gosto próprio, porque dão o perfil completo. Você escolhe um estilo e vem o figurino e o ambiente junto. São pacotes, tipo o Raul Seixas : saia indiana+sandália de couro+faculdade de comunicação/ciências humanas. Ou então o Radiohead : camisetinha de beisebol+cabelinho curto+dotcom job. Sei lá, prefiro ser incoerente.

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