December 31, 2007

Putz, não liguei pra ninguém ainda. Mal cheguei e já tô na correria planejando jantar de fim de ano, visita da Muié e do Joaquim e Sri, compras no Mercado Municipal e na Liberdade - nunca vi a Galvão Bueno tão entupida de gente. Really.

Mas está sendo divertido, light e sem stress. O que é um ótimo jeito de finalizar um ano que teve bons momentos no geral, mas que pareceu a parte 2 de toda trilogia cinematográfica - uma certa enrolação na narrativa pra dar uma esticada e vários ganchos pra um desfecho na parte final.

Vim pra SP duas vezes, fui a Paris duas vezes. Também Londres, Glasgow, Edinburgh e NYC. Ah, e Bruxelas. Conheci a Ana, o Fabio e o Thiago. Vi muitos filmes, alguns shows muito bons, li paca, exposições ótimas. Descobri a Cris A. , o Hector e a Andrea pelos blogs, mantive contato com quem eu queria e dispensei o supérfluo.

Thank you 2007!

December 28, 2007

Cheguei em SP! Calor e sol, e tentando não derreter.

Tô arrumando as coisas por aqui, depois vou entrando em contato com todo mundo.

December 23, 2007

Natal é a época em que os solitários de verdade se revelam.

E pensando neles, neste meu primeiro Natal em Amsterdam (nos outros consegui escapar pra SP) resolvi fazer algo amanhã, dia 24. Não chamo de ceia, porque acho passé. Vou montar uma mesa de comidinhas e pedir pra todos os solitários sem família desta cidade trazerem bebidas. E eu e Akira vamos passar a noite obrigando os outros a aturar o nosso gosto musical.

There's no such thing as a free lunch.


(passei a tarde inteira na cozinha, jeeeeesus - patê de berinjela, crostini de feijão branco com alecrim, tabule, mini-quibes, molho de tomate e deus sabe mais o quê)

December 21, 2007

Pra um fish 'n chips perfeito, o negócio é o seguinte :

4 filés de peixe branco (bacalhau, merluza, sola, whatever)

1 xícara de farinha de trigo
1 xícara de cerveja
1 colher de chá de sal
1 colher de chá de baking powder (fermento Royal)

Misture os 4 ingredientes acima até resultar numa massa líquida, com a consistência de um milk-shake ralo.

Prepare num prato raso uma mistura de farinha de trigo, sal, pimenta e páprica. Passe os filés de peixe nessa farinha, e depois na massa de cerveja. Escorra o excesso e jogue em óleo bem quente. Frite até dourar.

3 batatas grandes, cortadas em palitos

Pré-cozinhe as batatas cortadas no vapor com um pouco de sal (ou em água mesmo, sem que fiquem muito macias). Frite em óleo bem quente.

E pronto - melhor que o chippie da esquina. Sirva com molho tártaro ou vinagre e sal.

O peixe deve ficar com uma casquinha fina e crocante, e as fritas douradas por fora e macias por dentro. Não tem segredo.

Então, o Hector gentilmente me convidou pra contribuir pro coletivo Goma - espero estar à altura. Cultura pop na veia, escrito por gente ligada como o próprio Hector , escritor, quadrinhista, DJ e parceiro for life da conectadíssima Flávia Durante, e o Thiago Baraldi, que esteve aqui em Amsterdam estes dias, e é gente boníssima, relax e informado - tudo que é legal. Frequentem, comentem, mandem dicas! :)

funny pictures

I wish.

December 20, 2007

Quando falam de Cronenberg, a primeira coisa que me vinha à mente era "Scanners - Sua Mente Pode Destruir". Agora, devo dizer que será "Eastern Promises", fácil um dos melhores filmes do ano. Em poucas palavras e tentando não ser spoiler: Anna (Naomi Watts), uma parteira que trabalha num hospital em Londres, subitamente se vê envolvida no pior do submundo londrino - máfias russas, turcas e chechenas.

(TUDO BEM, eu confesso - fui assistir só porque tem o Vincent Cassel. Uh!)

Dou a vocês três razões para correr pro cinema quando estrear no Brasil (fevereiro de 2008, segundo o imdb):

* O elenco é primoroso, direção precisa e direta, o clima de tensão e medo domina sem apelações.
* O talento para idiomas do Viggo Mortensen e do Vincent Cassel garante boa parte da autenticidade do filme. O sotaque russo de Viggo torna o personagem Nikolai absurdamente real, e o Kirill de Cassel revela a dualidade de quem tem uma língua-mãe e uma língua adotada. E o poderoso chefão de Armin Mueller-Stahl é assustador em toda sua simpatia.
* As cenas de violência não são gratuitas - e, apesar de fortes, são importantes e fundamentais para se entender o funcionamento dessas famílias do crime organizado.


Mas se isso não bastar, deixa eu dizer que o Viggo tem uma cena de luta longuíssima INTEIRAMENTE...nu. Em pêlo. Gente, eu juro que não vou dormir esta noite. Af, vai ser HOMEM assim lá na pqp. Testosterona gritando! (e a minha progesterona gritando em resposta, ai)



Vinz e Viggo - Deus existe



Começa hoje o festival De Roze Filmdagen, a mostra anual de cinema gay daqui. Mas o post tá lá no GOMA!

December 19, 2007

Fui assistir a "Enchanted" atraída pelo trailer, onde o Patrick Dempsey diz pra princesa prestes a expressar seus sentimentos musicalmente : "Não, não cante". É o que eu sempre tive vontade de dizer pra TODOS os desenhos da Disney pós-1970 - me senti compreendida.

E por uma boa parte do filme, o que rola é essa auto-paródia divertida mesmo. Do conto de fadas clichê (Bruxa? Check. Animaizinhos da floresta? Check. Cavalo? Check) ao choque cultural quando os personagens se vêem perdidos no mundo real - cuja entrada é um bueiro em Times Square (how appropriate!), é um alívio ver que o gênero sabe rir de si próprio, um dinossauro no século XXI. O elenco é charmoso, e o James Marsden continua mandando bem. E o Patrick Dempsey é tão bom de se olhar...

(esse é um exemplo de homem que fica melhor com o tempo - assim como o Hugh Laurie)

Depois, vira um filme romântico comum, e o encanto acaba. Mas foi bom enquanto durou. Mesmo que não tenha sido pra sempre.

December 18, 2007

A cozinha asiática, diferente da francesa - exata e com medidas precisas - é toda baseada no "olho" e no paladar. Não adianta pedir receitas pras mães e avós japonesas, coreanas, chinesas, vietnamitas, tailandesas. Elas sempre vão dizer - põe isso, um pouco daquilo, prova e faz assim. Mas nunca vão dar medidas exatas e técnicas certeiras. Nada diferente da nossa cozinha brasileira, aliás. Ou alguém vai me dizer que a avó mineira ou pernambucana media o sal em colheres de chá? Tou pra ver uma medida mais subjetiva que a famosa pitada.

(na verdade, acabei de perceber que as única cozinhas que exigem precisão são a nouvelle cuisine e a gastronomia molecular - o resto, como todo elemento cultural, é passado no boca-a-boca, de forma quase instintiva - a gente aprende observando, provando e lembrando)

Assim, o jantar foi completamente étnico, mesmo nenhum de nós dois tendo sangue chinês. A gente simplesmente sabe que a mistura de gengibre, cebolinha e shoyu tem resultados pra lá de prazerosos. E assim, refogamos uns dois ou três dentes de alho e meia cebola (ou uma inteira - eu disse, nada é exato) no óleo. Jogamos uma pimenta vermelha picada, gengibre ralado ou fatiado e deixamos soltar o aroma. Uns cogumelos (shiitakes, champignons de paris, qualquer tipo), fatiados fininho. Acrescentamos camarões sem a cabeça e deixamos fritar até mudar de cor. Hora de colocar os noodles (se semi-prontos, colocar direto do pacote - se secos, cozinhar conforme as instruções até o ponto antes do al dente, escorrer e adicionar - pode ser até miojo) e uns dois ou três ramos de cebolinha cortados em pedaços grandes na diagonal. Temperar com shoyu, uns dois jatinhos de óleo de gergelim e um tiquinho de açúcar, e mexer. Enjoy.

Fui ver "The Golden Compass" por mera curiosidade. Não conheço a obra em que foi baseado, mas já senti que deve ser algo mais complexa e dificilmente bem adaptada para o cinema. Parte da trama e da importância dos personagens se perde na tentativa de se condensar a história em duas horas de filme - diferente da trilogia LOTR, por exemplo, que pode ser compreendida perfeitamente sem o respaldo da leitura prévia dos livros. Aqui, o que restou foi o elemento de fantasia : universos ocultos, bruxas e lutas de ursos polares (lindos, aliás).

Algumas idéias são interessantes, e baseadas em antiquíssimos conceitos de espiritualidade - como os daemons, representações da alma em forma de animais. O site oficial tem um extra bonitinho, onde você pode descobrir qual o seu, de acordo com a sua personalidade. O meu? Acho que bateu perfeitamente, e ser um gato preto (chamado Leonidas!) não poderia ser mais perfeito.




No mais, é um filme bonito visualmente, razoavelmente inócuo e facilmente esquecível. And Nicole Kidman is scary.

December 17, 2007

"My Blueberry Nights" é a primeira incursão do Wong Kar-Wai em inglês, com atores não-chineses. Pouco importa, porque em qualquer idioma seria igual.

A cinematografia e o roteiro lembram um dos trabalhos primordiais, "Chungking Express" - o mesmo universo urbano de solitários, desiludidos e abandonados pelo amor, o clima melancólico de olhares longos, as cores quentes preenchendo os silêncios. Os elementos que se repetem : o café, as chaves, o policial, os encontros ao acaso. As duas cantoras nos papéis principais - Faye Wong e Norah Jones.

Quase um quadro de Hopper. A vida vista pela vitrine.

Não é o melhor do Kar-Wai. Mas é muito bom. David Strathairn tem um personagem incrível, o melhor de todos. Com a Rachel Weisz linda e vulnerável, eles fazem o melhor arco narrativo do filme, o mais intenso. Natalie Portman é sempre eficiente em ser adorável e ambígua, e a cereja do bolo é a curta participação da Chan Marshall (e claro, Cat Power na trilha). A Norah Jones não precisa atuar muito - ela é o fio condutor, a escada, o pano de fundo para cada história. Até para a própria. Seus sentimentos são óbvios - os outros é que são um mistério.

Aren't they?

December 15, 2007

Fui assistir a "Bee Movie" meio sem saber o que esperar. E fiquei confusa. Abelhas antropomorfizadas - uma delas sendo o Seinfeld - numa história cuja mensagem final parece ser : "Não vá contra sua natureza, porque será desastroso".

Mas a abelha-Seinfeld vai completamente contra e se dá bem. Inclusive, só ela vai completamente contra. O resto das abelhas volta a trabalhar feliz e contente na sua anonimidade e produção em massa.

Oh.

Qual é a mensagem, então? "Apenas um pode ser especial e escapar de um destino monótono, os outros que se conformem"?

"Não faz mal o seu trabalho ser repetitivo, pouco desafiador e massificante - in the big picture, faz diferença - pense no social"?

"Se você produz mais do que consegue consumir, não deve se importar que outra espécie comercialize esse excesso e não lhe repasse a renda"?

"Humanos e abelhas podem conviver bem - inclusive formando sociedades"?

"Troque seu namorado chato humano por uma abelha"?

As you see, disturbing - to say the least. Nem as poucas boas gags nem as participações especiais despropositadas salvam. A animação da DreamWorks tenta ser Pixar, mas não consegue.

Z-movie, isso sim.

Na quarta fui ver a dupla franco-germânica mais charmosa do pop, o StereoTotal. Na sala menor do Paradiso, toda a população hip da cidade dançava espremida hits como "Cinémania", "Everybody in the Discotheque" e outras pérolas dos álbuns "Discotheque", "Do The Bambi" e "Paris Berlin", o mais recente.

Eu adoro a aleatoriedade da Françoise, que passa do electro ao french pop 60's sem hesitar, apoiada pelo Göring e suas bases que lembram Kraftwerk, new wave, blips e blops espaciais e Sex Pistols. Sem contar as letras nonsense em francês e alemão altamente viciantes naquela voz fofa. Amo. Nem lembro mais como e quando os ouvi pela primeira vez, mas faz alguns bons anos e me apaixonei. E eles tocaram no Brasil umas duas ou três vezes nesse meio tempo, mas consegui não estar lá em todas, minha sina.

Ouçam algumas músicas do trabalho novo aqui. E o site oficial tem algumas pra baixar, inclusive a delícia "Wir Tanzen Im 4-Eck" ao vivo. E "Carte Postale", que é a versão francesa de "California Sun" dos Rivieras, que vocês devem conhecer na voz do querido Joey. Amoamoamoamo.

December 12, 2007

Ainda sobre o caso da adoção aí de baixo, pelo menos veio à tona o nome do casal. Tá nesta matéria do Telegraaf. É em holandês, mas não precisa de tradução : é só olhar a cara dos toscos pra entender.

Nesses sete anos eles não se deram ao trabalho de pedir a cidadania holandesa pra menina - e agora ela não tem mais visto de residência em Hong Kong. Só passaporte coreano, mas como ela passou a vida toda fora da Coréia, ela não fala a língua e vai ser total estrangeira lá também. Criança se adapta fácil, mas peraí, né? O_O

Eu tenho ódio de gente que abandona animais de estimação quando se cansa deles, imagina de quem faz isso com uma criança humana. No caso de animais, quando a gente não tem como ficar com eles, pelo menos procura alguém de confiança com quem possa deixá-los, tenta encontrar um novo lar. Esse casal nem isso fez, simplesmente entregou a garotinha ao serviço social. Tipo, "se virem".

E é por isso que eu gosto tanto de gatos. Gente, bah.

December 11, 2007

Na verdade eu ia postar sobre outra coisa, mas fiquei tão indignada com essa notícia que não ia conseguir não falar nisso hoje.

Anger as Dutch couple give up Korean girl, 7, they adopted as baby over 'failure to fit in'
Last updated at 17:24pm on 11th December 2007


A Dutch couple has sparked outrage by giving up a seven-year-old South Korean girl they adopted as a baby – after claiming she didn't "fit in" with their life-style.

The diplomat and his wife, who had taken in the child after failing to conceive, handed her to social workers in Hong Kong after having two biological children.

They claimed the girl, who was adopted when four months old and has lived in the territory since she was three, was struggling to adapt to their culture, including food.

Now the Hong Kong's Korean community is trying to find a home for the unnamed child who is currently in foster care after being given up last year.

The girl, who speaks English and Cantonese but not Korean, is neither a Dutch citizen nor a Hong Kong resident, so her future in the territory is uncertain.

In South Korea, parents cannot return adopted children, but no such law exists in Hong Kong.

The diplomat told reporters, who agreed to his anonymity, that his family was struggling to cope with their decision and said his wife was having therapy.

"It's just a very terrible trauma that everyone's experiencing," he said.

"My foreign ministry knows about my situation.

"I have also been in touch with the Hong Kong Government and they have been very helpful to me and so has my own employer."

But the plight of the girl has sparked anger among social workers and many of the seven million people living in the territory.

"It's bizarre. I don't think it has anything to do with cultural shock," said Law Chi-kwong, an associate professor at the University of Hong Kong's Social Work department.

"The child grew up with them. They adopted her when she was a baby; they are responsible for shaping the child's mind and culture.

"How can you say the child cannot adapt to the culture in which she was raised? This is just ridiculous."

Members of Hong Kong's Korean community have flooded the country's consulate with offers of help.

Mark Choi, a spokesman for the Korean Residents Association in Hong Kong, said: "Several families have come forward to offer to adopt or foster the girl."

Hong Kong's Social Welfare Department said it was working with the adoptive parents and relevant parties on the future care of the girl.

It refused to disclose any other details.

Peter Mollema, spokesman for the Dutch foreign ministry in The Hague, said: "These are personal, private matters not shared with everybody at the ministry.

"Right now, we're trying to get the facts straight."


Como assim, mané? Pegaram a menina aos quatro meses de idade e agora, SETE anos depois, me vêm com essa, dela "não se adaptar"? Eu fico irada com esse tipo de gente, e juro que até pensei em eu mesma adotar a menina. Imagina o sentimento de rejeição que vai ficar eternamente na cabecinha dela? Ninguém merece isso, muito menos pela falta de noção dos outros. Aaagh.

December 10, 2007

Eu tenho uma certa impressão de que 2007 tem sido um ano ruim pra todo mundo, em geral. Claro, na verdade coisas legais aconteceram também, mas parece que as chatas estão ganhando na contagem.

O que fazer nessas horas? Eu fui é ter um dia mulherzinha, e vi "I Could Never Be Your Woman". Quando estreou nem liguei - mas ontem descobri que é da Amy Heckerling E tem o Paul Rudd!

(entendam, o Paul Rudd pra mim tá no mesmo patamar que o John Cusack - lindo, adorável e eu vejo QUALQUER filme com ele, por mais lixo que seja)

Aaah, que delícia de filme! Tudo, absolutamente tudo é um grandíssimo sarro bem-tirado - da idade dos personagens em relação à idade real dos atores às incontáveis referências ao sucesso anterior da diretora, "Clueless". Chorei de rir.

E putz, tem o Jon Lovitz. Adoro.

Pra completar, ainda fez um dia razoavelmente bonito, e a H&M está em liquidação. Arrematei umas coisinhas de 2, 5 e 10 euros que vão deixar eu e minha irmã bem contentes (ok, eu esqueci por meia hora que tinha dito que não ia mais comprar roupa este ano). I love being a girl.

December 09, 2007

Pois bem - "The Secret History" é bom paca. Do tipo que me fazia sentir inquieta se eu estivesse fazendo outra coisa que não ler.
A comparação com Bret Easton Ellis é superficial - os personagens da Donna Tartt são mais complexos, e existe um mundo além de dinheiro, tédio e drogas. A questão fundamental não são os acontecimentos, mas como cada um reage a eles. E sim, ela faz um trabalho de mestre ao conduzir nossas impressões sobre cada um. O narrador, Richard, faz a ponte perfeita entre personagem e leitor. Suas dúvidas são nossas dúvidas, suas reações, nossas reações.

Não dá pra falar muito sobre o livro sem virar spoiler - se é que mais alguém não leu. Tsc. Como eu lamento ser cabeça-dura às vezes.

December 07, 2007

Que eu tenho uma certa obsessão com culinária, todo mundo já sabe. Por isso, quando descobri que o Hervé This ia fazer uma demonstração de gastronomia molecular aqui na cidade, fui correndo me inscrever para a palestra.

Para uma audiência heterogênea, que incluiu até o Johannes van Dam - o crítico de restaurantes mais famoso daqui - This explicou o universo de possibilidades que se abre com seu trabalho de pesquisa, iniciado há vinte anos : destrinchando os ingredientes ao nível mais básico (a estrutura celular e molecular), entendendo como se comportam sob determinadas condições e relacionando tudo isso aos processos de preparo, o número de combinações desses building blocks torna-se incontável. De repente, depois de séculos comendo basicamente os mesmos alimentos, preparados do mesmo jeito, podemos agora brincar com a sua estrutura, alterando textura, sabor, forma. O resultado pode não ser palatável sempre, nem nutritivo - mas tudo depende de como for utilizado. E de qualquer forma, This considera a culinária uma arte, e a gastronomia molecular uma forma de prover um espectro mais amplo de possibilidades. E, a julgar pelos seus seguidores - Ferran Adrià, Heston Blumenthal, Pierre Gaignaire, Wylie Dufresne - ele tem razão.

O único problema foi o tempo escasso, e a apresentação foi espremida em uma hora, mas pelo material que ele tinha disponível, poderia ter se estendido pelo menos por umas três ou quatro. Quem não tinha um certo background sobre culinária ou química deve ter boiado um pouco entre as citações de emulsões, suspensões, fórmulas estruturais e nomes fundamentais para a história da comida, como Carême e Parmentier, mas acho que a idéia geral ficou.

É coisa de cientista maluco? É, mas acho interessantíssimo. Porque afinal, cozinhar é uma série de processos químicos e físicos - quanto mais controle sobre eles, mais precisos os resultados. Quanto mais você entende o funcionamento de algo, melhor é o seu aproveitamento. Quanto mais conhecimento sobre um elemento, ou um processo, mais segurança você tem em desviar do caminho normal e descobrir novidades. Um dos meus chefs favoritos, o Heston Blumenthal citado acima, é um que leva esse estudo ao pé da letra. Ele fez duas séries de TV, uma explorando a base da química na cozinha (Kitchen Chemistry), onde ele demonstra o porquê de vários fatos culinários e como ele chegou às suas idéias mais conhecidas (e polêmicas), como o sorvete de ovos com bacon, ou bolo de chocolate com gorgonzola. Na mais recente, In Search of Perfection, ele usa a ciência como forma de obter a execução mais perfeita de pratos clássicos da culinária britânica. Ambos são muito interessantes, e bem esclarecedores.

O Adrià tem o mérito de ter tornado a culinária molecular conhecida no mundo todo, e colocado a Espanha como símbolo de criatividade e vanguarda - mas o lado marqueteiro dele me irrita e sim, sinceramente, esvazia o que ele criou até agora. Francamente, batata chips, fast food e produtos com o nome dele são iniciativas vergonhosas de faturar um apelando para os fetichistas de marcas. São coisas que obviamente não têm valor criativo, apenas comercial - uma espécie de consolo para quem não pode ter the real thing.

E por isso mesmo, eu curto demais o Wylie Dufresne. Os pratos do wd-50 que experimentei oscilam entre o genial e o medíocre, mas você sabe que ele está na cozinha e adora o que faz, sempre tentando ultrapassar o próximo limite. O restaurante fica numa rua sombria, longe de badalações, e o chef tem uma personalidade discreta e sim, meio de cientista. Maluco.

December 05, 2007

"Omnia mutantur, omnia fluunt, quod fuimus aut summus, cras non erimus"

(”All things are subject to change, all things flow, tomorrow we will not be what we were yesterday or we are today” - adaptação para prosa de "Metamorfoses" de Ovidio, livro XV)


A primeira vez que vi essa citação, há anos, pensei : é a única verdade absoluta que existe. Tudo muda, impiedosa e impreterivelmente. Vivos ou mortos, estaremos sempre à mercê de um movimento perpétuo, que por vezes se faz perceptível, outras não. A mudança é o nosso mecanismo primário, a vida em si. Átomo, molécula, célula, embrião, órgãos, cinza e átomo. Moto contínuo. E aí entra a minha outra citação preferida : "Omnia mutantur, nihil interit" - tudo muda, nada morre. Deus existindo ou não. E esse processo não é justamente a imortalidade que os antigos atribuíram aos deuses?

E à minha volta, a mudança inexorável se faz presente. Amigos à beira de mudarem de estilo de vida, de estado civil, de profissão, de país, de cidade. Amigos que encontraram um amor, que descobriram falsos amigos, que acharam novos amigos, que estão indo atrás da felicidade, que entenderam porque estão onde estão. Amigos com projetos novos, amigos que viram seus projetos antigos naufragarem. Amigos que mudaram o corte de cabelo, que ouviram bandas novas, viram filmes e leram livros que nunca tinham lido. Amigos que mudaram de idéia, que estão decidindo para onde vão.

Eu fico feliz com esse movimento todo. Estou sempre aberta a mudanças, e se eu tivesse um conselho a dar a todos, seria exatamente isso : embrace change. Mesmo o que parece negativo no começo, tem uma razão no grande mecanismo geral, e é parte da vida. É necessário pra que se ande para a frente (porque pra trás não dá), é fase de jogo. Não temam.

Há três anos, tomei uma decisão que me traria mais mudanças que eu podia imaginar. E aqui estou, pronta pra seguir adiante.

Vamos?

December 04, 2007

A série "Resident Evil" é uma grande exceção entre as adaptações cinematográficas de games : não só é muito boa, mas também é irresisível mesmo pra quem nunca jogou o original.

"RE : Extinction" é um filmaço, e definitivamente o melhor dos três - cenários apocalípticos, zumbis em profusão, sustos e tensões bem colocados (engasguei com a pipoca mais de uma vez), clonagem, um mundo controlado e os últimos humanos livres - tudo que uma sci-fi distópica de horror das boas precisa. Sem contar a Milla Jovovich kicking some serious ass. Bem dirigido, bom ritmo, bons efeitos, referência aos clássicos do George Romero e finalmente uma história mais firme por trás. Não consegui achar nada de errado nesse filme - até a duração, menos de duas horas, é um espanto.

December 02, 2007

Assisti ontem a "Friend", um dos maiores sucessos de bilheteria na Coréia do Sul. Compreensível, pelas boas atuações da dupla principal e a mistura de drama e violência em montagem ágil. E claro, o final emotivo, onde o não-dito tem mais importância que as palavras trocadas. A princípio pensei que fosse um daqueles filmes de máfia oriental à la Kitano, mas é mais uma ode à amizade incondicional - algo emblemático na cultura coreana.

Amigos de infância, Dong-Su, Joon-Sook, Jung-Ho e Sang-Taek crescem e tomam rumos diferentes. Os dois primeiros se tornam gângsteres, enquanto os outros dois levam vidas simples e comuns. Mesmo assim, o sentimento que une os quatro é forte, e às vezes, o único conforto, a única certeza com que podem contar.

Eles se dizem frequentemente : "entre amigos não há o que se desculpar". Porque a princípio o amigo, mesmo errando, nunca tem intenção de causar mal. Lealdade, essa sim uma das bases de uma amizade real e duradoura.

(quanta gente precisa aprender isso!)

December 01, 2007

Eu tenho um certo problema com recomendações e hypes em geral. Com música até que eu tolero mais. Mas livros...recomendação eu só ouço de gente de quem eu tenho certeza sobre o (bom) gosto. E hypes? Bom, saiu em lista de best-seller já é três-quartos do caminho pra eu não ler. Apareceu na lista da Veja, então, eu já risco da minha na hora, hahahaha.

O saco é quando os amigos indicam coisas. Como quando a Gabi (Mrs. Fergusson) disse que Donna Tartt era sensacional, há uns anos. Essa era uma autora que tinha passado completamente fora do meu radar. Fiquei com a idéia de comprar "The Secret History" me martelando por séculos a cabeça, como um dever procrastinado eternamente. Aí, finalmente comprei, há um ano e pouco. E deixei o livro lá na estante, mofando. Por um lado, eu sabia que se a Gabi gostou, certamente é bom. Sem dúvida. Do outro, a coisa de "ter" que ler. Eu odeio "ter" que fazer qualquer coisa que não seja pela minha vontade e capricho puro e simples. E fiquei adiando abrir o livro, provavelmente num protesto inconsciente : "eu leio quando EU quiser". Dã. Don't ask me, eu sei que é ridículo : eu não aguento ser mandada nem por mim mesma. ¬¬

Finalmente parei com essa bobagem e agora tô me xingando internamente por não ter começado antes - porque é bom mesmo. Extremamente parecido com o Bret Easton Ellis de "Less Than Zero" (no wonder), mas com personagens mais trabalhados, intrigantes.

Eu consigo ser muuuuito tonta às vezes.

Putz, vi o episódio mais legal do No Reservations do Bourdain : Cleveland.


E que cazzo tem em Cleveland? De comida não tanto, mas teve participação especial do Harvey Pekar! E do Marky Ramone, de sobremesa. Finíssimo!