March 31, 2006

Tinha começado o "A Wild Sheep Chase" do Haruki Murakami há alguns meses, mas o ritmo dos trabalhos começou a apertar e deixei as ovelhas e carneiros pra lá. Hoje resolvei acabar com essa pouca vergonha e terminei de ler o livro - uma trama intrincada e surreal, mas sem dúvida interessante - graças, claro, ao estilo seco e sintético do Murakami. Acho que poucos conseguiriam levar adiante uma história onde personagens são possuídos por um carneiro misterioso que quer dominar o mundo.
Agora preciso ler o "Dance Dance Dance". Ô papo de viciada.

March 30, 2006

Esse horário de verão me confunde. Sete da noite e não é noite ainda.

Mas...é tempo de voltar a ficar em cafés ensolarados tomando Hoegaarden com limão! E pessoas bem-humoradas na rua, e poder escolher roupinhas bonitinhas pra sair (no inverno, pra quê? Podia sair sem nada por baixo do casaco que dava na mesma), e andar só por andar. Quem quiser me visitar aí, agora é a hora.

March 26, 2006

Fomos dar um rolê no quarteirão à procura de uma tabacaria aberta e aproveitar o solzinho da manhã. Na volta, Akira criou um molho inacreditável com um restinho de moutarde à l'ancienne (com grãos), raiz forte, vinho branco e ciboulette pra colocar sobre o salmão defumado. Isso, uma baguette, mais fatias de ovos cozidos e frango defumado frio e uma tacinha de Chardonnay espumante foi nosso brunch de domingo. Acho que não vou conseguir comer mais nada hoje.

Ainda em Arnhem, no final da tarde entramos no Café Störtebeker pra tomar uma cerveja. Seis rodadas depois, depois de discutir o pôster dos Dead Kennedys na parede e a cabeça raspada do bartender e bem felizes de ter encontrado o lugar mais rock and roll da cidade (o The Queers tocou lá ano passado, damn!), fomos procurar um lugar pra jantar. Acabamos entrando no La Cucina Italiana, que apesar do nome er, óbvio, é bem bom, relativamente barato e tem um atendimento ótimo, o que pros padrões daqui é algo raro. Pedimos uma pizza e uma bistecca que na verdade era um filé, e ambos vieram perfeitamente executados e saborosos (o que deveria ser regra, mãs...). Pena que não consegui tirar fotos do lugar, que é lindo, mas roubei umas imagens do site.



Ainda tive a sorte de encontrar um par de botas Converse de couro preto. Par único, tamanho 6 americano, cano até o joelho, remarcado a 49 euros (sendo que o preço normal seria pelo menos o dobro). Os tênis de couro da Converse são a coisa mais confortável do mundo e eu ainda estava mourning o roubo do meu par cor de vinho. Gente, elas estavam esperando por mim! Ainda tentei ser forte e saí da loja sem nem experimentar, desfiando desculpas imaginárias :
"Não vão servir"
"Botas nesse calor?"
"Você tem pernas curtas, tá pensando o quê?"

Mas uma hora depois voltei correndo, com aquele medinho de que alguém tivesse levado (I know, I know). Quando as vi ali, agarrei o par e provei ali mesmo. Perfect fit, aceita cartão?

Aproveitei então para conhecer o Museu de Arte Moderna de Arnhem. Foi interessante como introdução à arte moderna holandesa - que, com exceção do Maurits Cornelius Escher e Mondriaan, era completamente alienígena pra mim. E que interessante! Uma exposição sobre ilusão e fantasia reuniu vários trabalhos de 1925 a 1950 onde predominam crânios humanos e seres de pesadelo. Dick Ket e Carel Willink, Charley Toorop e Pyke Koch. Gostei muito de uma série de 15 retratos de pessoas mortas. Rostos emaciados, tons esverdeados e expressões ora serenas, ora de agonia. Pena que não lembro o nome do artista.
Na parte contemporânea, algumas instalações dignas de nota e a video-arte de Lida Abdul, uma artista afegã que trabalha com vídeo e fotografia e fez algumas séries em Kabul entre 2000 e 2004. A exposição especial era do alemão Franz Radziwill, mas francamente achei pouco expressiva.
Mas o melhor mesmo? A vista. O museu fica numa parte elevada com vista para o rio Reno. O dia podia estar chuvoso e escuro, mas a visão do rio por entre árvores desfolhadas made me stop on my tracks.



March 25, 2006

Fomos para Arnhem de novo. Desta vez, sendo sexta-feira, tudo parecia muito mais lively. Mesmo às dez da manhã, as ruas do centro estavam movimentadas - talvez por causa da feira na praça da igreja. E que feira! Algumas barracas de vegetais, outras de pães, outras especializadas em azeites e azeitonas, muitas vendendo roupas e tecidos, uma oferecendo todo tipo de salame e salsichão possível . Mas a grande atração mesmo eram as barracas dos peixeiros. Pessoas se aglomerando para comprar kibbeling (iscas de peixe branco à milanesa) e arenque preparados na hora, para comer ali mesmo, de pé.



Devorando, não. Inalando, eu diria.

Sábado de primavera, enfim. Quatorze graus!
Fizemos o circuito de compras de todo sábado, depois a limpeza da casa, botei meus membros enferrujados pra alongar e quase consigo recuperar minha abertura. Fizemos guacamole, frijoles, carne com chili (e não o contrário) e estou devorando tudo com Doritos e tacos. Aaaaah, life is good.

"Funny how the new things are the old things"
Rudyard Kipling
(1865-1936)

March 21, 2006

Aí, pra comemorar fui na Waterstones comprar livros na promoção de 3 por 2. E saí com dois Murakami ("Hard-boiled Wonderland" e "The Wind-up Bird Chronicle") e um Paul Auster ("The New York Trilogy"). Tudo bem que eu já tinha o "Wonderland", mas tá no Brasil, pô. No momento preciso de livros companheirinhos para todos os outros que comprei e que eu não vou conseguir ler até terminar a maldita tese. Pra quê? Ora, pra não se sentirem solitários, já que atenção eu não posso dar mesmo...

Então. Mandei um email pra Amazon sobre os livros-que-o-correio-holandês-fdp-não-sabe-se-devolveu. Mas só por desencargo de consciência, porque afinal a Amazon não teve culpa absolutamente nenhuma nessa história toda. E não é que eles me responderam prontamente? Dizendo que pelo jeito minha encomenda tinha se perdido no envio, então outro pedido igual foi processado e enviado no dia seguinte, sem custo algum. Mal tive tempo de responder dizendo que não precisava, porque eu já tinha comprado os livros de novo - alguns dias depois, pimba! O replacement chegou. Eu juro que fiquei pasma com o bom atendimento : solução imediata e fácil, com prejuízo arcado por eles, mesmo sem serem culpados (correio holandês fdp!). Resolvido com UM e-mail. E pensar que tem empresa que a gente tem de ficar meses em cima telefonando, pentelhando e mesmo assim não consegue solução alguma.
Tudo bem que agora tenho dois "The Essential Frankfurt School Reader" na estante (alguém precisa de um?), mas aí também é problema meu, porque eu decidi comprar o livro de novo em outra livraria.

Ah, e alguns dias depois, recebi um e-mail de outro setor deles, dizendo que a minha encomenda devolvida chegou nos depósitos deles (o que o correio holandês fdp ficou fazendo com o pacote até agora?). Legal, agora eu tenho os meus livros, eles têm os outros de volta e tá todo mundo feliz. E claro que eu vou continuar cliente da Amazon. Agora, do correio holandês fdp...(maldito, não tenho outra opção!)

March 19, 2006

Ando estocando filmes coreanos pra minha tese, e assisti a dois deles estes dias. O primeiro foi "Samaritan Girl", do Kim Ki-duk - que, como sempre, consegue fazer de um apanhado de simbolismos um filme inquietante e reflexivo. Usei um trecho na aula de Fictional Events como exemplo de cena que necessita de um cultural background específico pra ser entendida - porque afinal muito do comportamento dos personagens é extremamente coreano. A ponto de, ao ver a reação do pai da menina, pensar que meu pai faria o mesmo, por mais chocante que pareça. Lindo, lindo.
O outro foi o famoso "My Sassy Girl", que pelo jeito foi um grande hit nas bilheterias coreanas. Também, uma comédia romântica com uma heroína não muito convencional (para os padrões asiáticos - e, putz, eu sou desse jeito às vezes) não deixa de ser uma delícia. O filme muda radicalmente de ritmo na divisão de partes, passando a ser quase um melodrama, mas faz parte do charme.

March 18, 2006

Fomos assistir a "Hostel" hoje. Jesus, fazia tempo que eu não saía passando mal do cinema. Aquele tremorzinho nas mãos, falta de ar e um certo nervosismo que a gente adora sentir e que qualquer filme de terror decente deveria proporcionar. Mas também, produzido pelo Tarantino, dirigido pelo Eli Roth e até com uma participaçãozinha do Takashi Miike, eu queria o quê?
Not for the faint of heart.

March 17, 2006




Eusebiuskerk, Arnhem.



Espero que o morador do número 17 não seja muito alto, coitado.

(isso sempre me intriga nas casas antigas daqui, essas portas de anão)

March 15, 2006

Fomos pra Arnhem, uma cidade a 20km da fronteira com a Alemanha. Fui acompanhar Akira num trabalho, e enquanto ele fazia isso eu fui dar umas voltas pelo centro, que estava deserto porque ainda era cedo (pra uma segunda-feira). O que eu realmente queria visitar, a Eusebiuskerk, estava fechada (porque era segunda-feira). Fiquei então dando voltas nas ruas de comércio, que a partir do meio-dia começaram a ficar bem movimentadas. E têm praticamente todas as lojas de redes que existem aqui, então não foi exatamente uma novidade. Mas achei uma loja de CDs e DVDs que me manteve ocupada por pelo menos uma hora, mas o que me pegou mesmo foi uma caixa de filmes dos Irmãos Marx. Cinco filmes. Vinte euros.
No final da tarde, fomos almoçar no café do Musis Sacrum, o Mahler. Lindo, amplo, todo envidraçado. Ficamos numa mesa ao sol e comemos filé com risoto de vinho tinto e mini-shiitakes e cordeiro com couscous de tomates. E um gratin dauphinois MUITO bom.
E claro, depois fomos rolando até a estação.

March 14, 2006

Eu não sei o que dá mais medo : o fato do menu ter um item numerado 2009, ou o item ser "cowboy leg". O que você pediria?

(tem mais aqui)

March 10, 2006

Ontem encontramos uma loja especializada em azeite, vinagre e mostarda. O paraíso gourmet e gourmand. Todos os tipos de óleos e vinagres aromatizados possíveis, azeites de todas as procedências, enlatados espanhóis e...sal. Maldon sea salt, fleur de sel de Guérande, kosher salt, gray salt, sal da Sardenha. Investimos uns eurinhos numa caixa de Maldon, e posso dizer que vale cada centavo, e já quero cobrir tudo com aqueles cristais lindos e deliciosos.
Já faz algum tempo que banimos o sal refinado iodado da nossa cozinha lá em São Paulo. Quando vi que o Akira também é adepto do sal marinho grosso, pensei : "match made in heaven". Porque sal refinado iodado não dá.

March 07, 2006

Ainda no assunto "esses holandeses esquisitos": ditados.

Confesso que a maioria não fez sentido algum pra mim.

E é velho, mas eu morro de rir : Engrish e Dunglish

De lá, deu tempo de pegar "Caché" no Tuchinski. Que, como todos os outros filmes do Michael Haneke, me deixou em estado de tensão e desconforto durante toda a sessão. Mas é MUITO bom : intrigante, crítico, perturbador - qualidades que são acentuadas quando Haneke nos obriga a partilhar o ponto de vista dos protagonistas from the inside (o que Murray Smith chama de "central imagining") durante as sequências dos vídeos. Que aliás só existem com essa função.

Agora eu queria muito rever "Code Inconnu".

Nunca haverá fotógrafo como Henri Cartier-Bresson.

Tirei o dia hoje para ir ao Foam, o museu de fotografia de Amsterdam, que apesar de pouco conhecido tem um espaço razoável e bem bonito em frente a um dos canais. A exposição do Cartier-Bresson foi distribuída em aproximadamente dez salas, fazendo um bom panorama dos trabalhos mais significativos, divididos por localidade. Dos bailarinos em transe da Indonésia aos retratos de Picasso e Giacometti, passando pelas prostitutas mexicanas em suas janelas recortadas, cada foto carrega o característico olhar inobtrusivo mas revelador do fotógrafo. O que mais me fascina em algumas é a composição da imagem, tão geométrica e ao mesmo tempo tão natural, e em outras a capacidade de isolar um instante numa cena de movimento - um calcanhar prestes a tocar uma poça d'água, uma perna capturada antes de entrar numa sala. Me perdi com prazer entre esses momentos, entre Paris e Shanghai.

March 05, 2006

Na mosca!

E isto foi um dos assuntos da mesa ontem - as festas de aniversário holandesas. Believe you me, eu estive em duas, e é assim mesmo. E fiquei aliviada em saber que não sou a única a ter achado muito, mas muito estranho. Tá, podem ficar com peninha de mim agora e me convidar pra festas de verdade.

Pra quem quer saber um pouco mais dos hábitos alimentares dos holandeses, achei este texto no Expatica. Eu ainda sou mais os franceses...

E aí eu jurei que hoje não vou sair de casa porque ontem a gente foi jantar com uns amigos num italiano, tomou muito vinho e depois foi pro bar mais lotado da rua arco-íris daqui. E cansou, porque agora eu sou uma moça caseira, que gosta de ficar na cama tomando sol de inverno com o laptop do lado.

Ganhei até beijo de uma beesha abusada. Uma vez fag hag, sempre fag hag, tsc tsc.

Pleno mês de março e neva todo dia. Como pode?

March 03, 2006

Em compensação, hoje vi "Match Point". Fico feliz quando o tio Woody consegue dar um tempo do seu personagem/persona e seus maneirismos inconfundíveis que ultimamente acabam por desviar a atenção da verdade : o grande cineasta que ele é.
Deve ser um dos melhores filmes que ele fez nos últimos anos. A cidade pode ser Londres e a trilha sonora operística, a história pode ser a velha tríade homem-mulher-amante, mas nada disso é importante. O principal do filme, como nos melhores trabalhos desse gênio neurótico fã de Bergman, são as relações humanas e a idéia fundamental do papel da sorte no destino. Como em "Crimes and Misdemeanors", o crime em si tem menos importância do que saber quem o comete e por quê.
Cinematograficamente? É perfeito. Elenco adequadíssimo com personagens bem desenvolvidos (no começo fiquei intrigada pelo Jonathan Rhys-Meyers ser o protagonista. Depois entendi - porque ninguém mais tem esse olhar ambíguo, frio e quente ao mesmo tempo), ritmo impecável. Esse sim, um P-U-T-A filme.

Fui ver "Brokeback Mountain". E olha, vocês vão me achar muito sem coração se eu dizer que não me emocionou? Passei o filme todo aguardando aquele momento de arrebatamento, e nada. Esperei, esperei. Quando veio a cena das camisas guardadas juntas, achei que fosse aí. Mas também passou, com um princípio de lágrima que não quis sair. E quando vi, o filme terminou. E não pude evitar o sentimento de frustração, porque eu realmente esperava mais. Isso porque eu sou uma manteiga derretida.
Claro, é um belo filme, com uma história de amor trágica e bittersweet. Atores bons, mas cujo desempenho é só...esforçado. Mas talvez a culpa seja mais da falta de profundidade dos personagens e do roteiro muito ansioso por deixar claro o "gosto-de-um-homem-mas-não-sou-bicha". Além da vergonha e da frustração de cada um, não consegui perceber muito mais, faltam camadas. O seduzido quieto e humilde, o sedutor falante e aventureiro, same ol'story. Curiosamente, achei mais desenvolvimento emocional em Alma e Alma Jr., apesar de serem mais do que secundárias. Talvez tenha sido o receio de resvalar no piegas, o que acabou resultando numa secura exagerada. Sei lá. Só sei que fiquei decepcionada.

Tomei vergonha na cara e fui fazer o Pathé Unlimited, um cartão que dá acesso livre a todos os filmes em toda a rede Pathé na Holanda por míseros 17,50 mensais. Considerando que uma single admission custa pelo menos 9 euros, é um negocião se você pretende ir ao cinema pelo menos duas vezes no mês. Como eu queria que isso tivesse existido no Brasil...

March 01, 2006

Ué, fevereiro já acabou?