April 30, 2007

Vi também "The Curse of the Golden Flower". O Zhang Yimou marcou minha vida em dois momentos - com "Ju Dou" e "Hero", e só por isso o que ele fizer eu vou lá ver. Ganhou esse privilégio irrestrito, ha.
Não por acaso "Golden Flower" é uma espécie de híbrido exatamente desses dois filmes - a megalomania visual do segundo e a trama de tragédia grega do primeiro. Não gostei do elenco (não gosto do Chow Yun-Fat e nem da Gong Li) e a história é fraca. Mas os figurinos e cenografia continuam de fazer cair o queixo, sem contar que ter como cenário a Cidade Proibida viva e fervilhante é covardia. Quando fui visitar o lugar em 2003, fiquei olhando aqueles espaços imensos e imaginando que tipo de tramas se desenrolavam ali.
Enfim, nada supera "Hero" no gênero, mas vale ver.

April 27, 2007

Esqueci de falar, vi também "300", do Zack Snyder. Só fui mesmo porque a graphic novel do Frank Miller foi uma das melhores que li há alguns anos, e queria ver se a adaptação cinematográfica ficava à altura. E claro, por causa do Rodrigo Santoro.

Mas...

Confesso que dormi nos primeiros minutos (jet lag, gente, jet lag), mas isso não prejudicou em nada meu aproveitamento. Porque o filme não tem muito fora o aspecto visual - lindo, aliás. Soldados espartanos com sotaque britânico, sangue espirrando em slow-motion, sépia all over. Mesmo a brilhante estratégia de Leonidas nas Termópilas ficou obscurecida pelas cenas de "bravura" (gritos, falas declamadas, tanquinhos suados). E aquela rainha, meudeusdocéu. Com aquela voz de taquara rachada e aparência frágil, vai impor respeito onde?

Eu queria ter gostado. Mas não gostei.

Claro que esqueci de levar a câmera. Mas o velho e bom YouTube tem uns bons vídeos de performances do Chance. Este aqui é ótimo.

Ontem tivemos a oportunidade de assistir ao que, sinceramente, achamos que tivesse morrido de overdose pelas ruas do LES há muito tempo : James Chance and the Contortions. Os Contortions não são os mesmos, mas o cara continua pequeno, estranho e genial. Fiquei sabendo do show há uns meses, marquei no calendário e tudo, mas só acreditei mesmo na hora em que ele subiu ao palquinho do occii, o nosso Satã local, com seu topete (mais ralo e grisalho), órgão KORG e sax em punho, com a mesma performance e dancinha alucinada. Punk, funk, free jazz, tudo junto, algo inclassificável e ao mesmo tempo característico, único.
James Chance, James White, whatever, sempre o considerei um dos músicos mais geniais e originais da No Wave. O homem, o mito. E ontem ele estava ali, a dois metros de mim.

Tem coisas que só Amsterdam (já que eu não moro em NYC) faz por você.

April 24, 2007

Comprei a Harp deste mês por causa do bigodón do Nick Cave na capa. Não, sério, Grinderman é um projeto do Cave de que eu realmente gostei. Rock testosterona.




O susto mesmo foi na última página, com uma foto do Adam Yauch (dos Beastie Boys). De cabelo grisalho. Oh I feel old.

April 23, 2007

Vai fazer quase uma semana que estou de volta, e nada das atualizações, né? Mas nos primeiros dias mal dormi, e agora que estou dormindo normalmente há outras coisas que fazer.

Como não consegui repor o sono logo que cheguei, fui ao cinema ver aquilo que seria a adaptação cinematográfica de um dos meus quadrinhos favoritos, o Motoqueiro Fantasma. Er...Tirando a interpretação equivocada do Nicolas Cage, foi até legal. Assim, eu dispensaria o Johnny Blaze quase retardado e colocaria alguém mais adequado no papel, mas os efeitos ficaram ótimos. Achei uma piada interna divertida colocar o Peter Fonda no papel do demônio (you know, "Easy Rider" and all that), mas a Eva Mendes é péssima. Eu esperava ansiosamente esse filme porque é um dos meus personagens do coração, mas ao mesmo tempo sabia que não ia fazer jus...

(se bem que quando ele aparece naquela jaqueta e calça de couro, eu tenho que admitir que tenho um certo biker fetish)

April 21, 2007

Hehe, e aos 44 minutos do segundo tempo consegui encontrar com a Xris, ali no Frei Caneca. Ela me deu uma fieirinha de tsurus tão linda e colorida e eu só a arrastei pra fazer compras de supermercado comigo. Shame on me.

E pra finalizar bem minha estadia, fui jantar com a Kris e o Rico no novo Eñe. A premissa era de uma leitura moderna da cozinha espanhola, então lá fomos nós.
As opções mais interessantes são as tapas, com preços entre 8 e 20 reais. Pedimos várias, do clássico pão com tomate a vieiras com emulsão de salsinha. Em geral, todos bem executados e saborosos, mas de modeeeeerno e inovador mesmo não vi nada. Talvez a apresentação das patatas bravas, que ali viraram cilindros de batata fritos e recheados com o molho. Fora isso, o tartar de peixe com ovas estava maravilhoso, as vieiras eram minúsculas (eu nunca vi vieiras tão pequeninas, as daqui são pelo menos 3 x maiores) e a emulsão um pouco pesada, mas visualmente bonito o prato - os moluscos na concha, sobre uma cama de sal. As croquetas de jamón, bem, eram croquetas de jamón. Hard to get that wrong. E a tortilla de patatas, nada de especial - igual a de qualquer bodega na espanha. A carta de vinhos é boa, só com rótulos espanhóis (e tem cava Juvé i Camps!) e alguns vinhos em taça.

O melhor mesmo foi a companhia. Nenhum dos três está morando em São Paulo, e mesmo assim vi cada um DUAS vezes em 3 semanas. Sorte? Nah, we're meant to be.

;)

April 16, 2007

Assisti ao DVD de uma banda da qual tinha ouvido falar, mas não conhecia : Ojos de Brujo. Uau, achei muito bom! São de Barcelona, e usam o flamenco como base, adicionando elementos do hip-hop e de electronica, entre outros. Genial como fazem o tradicional ser tão moderno ao mesmo tempo, além da musicalidade inata e precisão técnica deles serem de cair o queixo. Aqui tem um show (gravado em Amsterdam, aliás), pra quem quiser conferir.

* Nem tudo são trevas no prédio da Câmara Municipal, pelo visto. O Restaurante-Escola é uma iniciativa muito bacana, pena que pouco divulgada. A parte de cozinha é executada corretamente, a do serviço obviamente não é perfeita, mas vê-se que o pessoal se esforça pra fazer tudo certinho (às vezes até demais - pensar, gente, pensar. Nem tudo tem de ser seguido à risca. O coitado do rapaz deu três voltas em torno da mesa tentando colocar os pratos pela direita mas atrapalhado porque não sabia de quem era qual), e o ambiente é agradável - amplo, arejado, iluminação natural. Pra quem estiver pela região é uma boa pra almoçar num lugar tranquilo e ainda dar uma força pro projeto.

* O Astronete, além de ser um espaço muuuito legal, com som decente e sem grandes firulas, ainda tem um bom bar, que serve Guinness a bons preços e a surpreendente Colorado, uma cerveja ótima, em versões Pilsen e Pale Ale. Sem contar a fofa go-go dancer sixties Darlene Love, linda de morrer. Levemente inspirado no Beauty Bar, é um lugar do jeito que eu gosto : pequeno mas não apertado, despretensioso e retrô. Só precisam dar um jeito no site, já que quase todos os links dão erro (se bem que isso tem um certo charme lo-fi, hahaha)

* Em compensação, fui ao Vegas numa sexta-feira e quis morrer de desgosto. O lugar até é interessante, mas absolutamente igual a tantas outras casas. O som era um eletrônico genérico, o público uma coisa muito "na-verdade-eu-gosto-da-Vila-Olímpia-mas-vim-aqui-pra-pagar-de-moderno", gente muito preocupada com o cabelo e que dança levantando o bracinho. Me irritou profundamente, principalmente porque esse tipo de pessoa, há uns 10-15 anos (época em que sair ainda era legal), preferiria morrer a passar na frente que fosse dos clubes bons da época (era coisa de viado, hahahaha). E torcia o nariz ainda, dizendo que música eletrônica não era música. Saudades de quando se conseguia identificar um DJ só de ouvir...
Talvez nas noites dedicadas ao rock seja um pouco melhor, mas só vendo. Hoje em dia o que tem de patricinha querendo fazer a revolucionária...

Aliás, quem gosta de passeios perto da cidade pode pegar a Castelo Branco numa tarde de sol e ir almoçar no Rancho 53, ali perto de São Roque. Apesar do nome, é um bom restaurante português especializado em bacalhau com uma lojinha anexa oferecendo produtos portugueses (tem até queijo Serra da Estrela a 300 reais o quilo, vejam só - quem paga isso?). O atendimento é super gentil e um prato dá pra 3 pessoas tranquilamente (custando em média 110 reais).

April 13, 2007

Ainda no assunto "comer em São Paulo" :

* Se alguém tiver curiosidade de provar o mul-naeng-myun, o melhor que já comi nesta cidade é servido no Mishirion, no Bom Retiro (Rua Correia de Melo, 162 - tel 3311-9453). E não se preocupem com não saber ler o cardápio (em coreano!), os garçons são brasileiros e super gentis! :)
Fui logo duas vezes nesta semana, porque em A'dam não tem...

* Ontem conheci um japonês moderninho em Moema, o Koban. Projeto visual fantástico (foto aqui), serviço corrido mas simpático e comida razoável. Se parassem com essas bobagens de hot rolls e uramakis com goiabada (! ! !), seriam bons. O salmão grelhado estava ótimo (e eu normalmente odeio salmão que não seja cru ou defumado), os sashimis bem cortados, peixes frescos.

* Fui à Kebaberia, no Itaim, por simples curiosidade. Er...o lugar é bonitinho, os kebabs razoáveis, o atendimento simpático, mas...nada de mais. Não tem absolutamente nada a ver com a comida de rua popularizada na Europa, inclusive nos preços. Prefira o Mister Gyros, no Boulevard S. Bento, dentro do metrô.

April 12, 2007

E ainda no assunto sobre o que São Paulo tem a oferecer se você se dispuser a procurar, outro dia fomos até o Tatuapé procurar a Casa do Churro. Como no Churros da Móoca, a especialidade ali são os churros em roda, fritos na hora e só polvilhados com açúcar. Há montes de invencionices, como churros gelados cobertos com chocolate, com sorvete ou quentes recheados com bacalhau e frango com requeijão, mas nem percam tempo com isso: o melhor mesmo são os simples, acompanhados por um copinho de chocolate quente espesso for dipping, no melhor estilo espanhol. Pelo menos funcionam num horário mais acessível do que o da Móoca.


(quem, ómeudeus, quem vai até a Móoca só pra comer churros às 3 da manhã? Non merci!)

E bem longe da Vila Olímpia fica a Vila Medeiros, onde a gente foi se embrenhar hoje atrás do Mocotó. Gente, que lugar sensacional! Apesar da aparência modesta do restaurante, os pratos são incríveis e lindamente apresentados, e o serviço é exemplar. Sinceramente, os garçons mais educados e atenciosos que vi nos últimos tempos.
A comida? Pedimos uma quantidade absurda - atolado de frango com chips de mandioca, escondidinho de carne-seca com purê de mandioca, carne-de-sol na brasa com alho assado e pimenta biquinho, baião-de-dois - e de sobremesa uma mousse de chocolate com cachaça e um sorvete de rapadura (feito no local) com calda de catuaba. Mais as bebidas, sabem quanto deu a conta? 51 reais e quarenta centavos. Pra três pessoas.

É um ambiente curioso - acomoda tanto o público do bairro, gente simples atrás de torresmo e cerveja, quanto apreciadores de culinárias elaboradas. O atendimento, insisto, é impecável. Juro que só vi igual no L'Astrance, em Paris (atento mas não obtrusivo, sugestões de como tirar o máximo proveito de cada prato, rápido, gentil e informativo). E a execução dos pratos também, da técnica à apresentação.

(E pensar que em tantos lugares acaba-se pagando por serviço inaceitável)

É fora de mão? É. Mas pega o roteiro no Apontador ou no MapLink e se joga, porque vale.

April 11, 2007

Aliás, adoro lugares escondidos e tranquilos. Se tem algo que me deixa completamente passada são aqueles mega-lugares com mega-divulgação e freqüência mega-chata. Eu tenho horrooooooooor a lugar com fila pra entrar, horroooooooooooor a carão, horroooooooooooooor de gente atrasada 30 anos que acha que música eletrônica é o auge do moderno, horroooooooooooor a "balada" (cringe, cringe - odeeeeio essa palavra. Só não é mais cafona que "tequinêra", até hoje o auge da breguice deslumbrada). Eu tenho horrooooooooooor de gente que fala que "adora balada gay" (aliás, tem coisa pior do que gente que usa essa distinção : balada gay, amigo gay? Eu não classifico meus amigos pela sexualidade ou whatever, como se fossem uma peculiaridade - são amigos, ponto. Tipo, não precisam de "sobrenome" ¬¬ . Ou seria aposto?) , horroooooooooooor de vitrine ambulante, de gente que se acha "muito louca" e fica gritando feito retardada, de homem que acha que você vai gostar se ele pegar no seu cabelo ou passar a mão na sua cintura, de gente que fala "festa rêivi".

Enfim, vocês nunca vão me ver na Vila Olímpia e arredores.

A moda de aproveitar a noite de terça-feira como cineclube nos bares e clubes chegou aqui, de preferência mostrando filmes de horror e raridades Z. Adoro! Em Amsterdam o correspondente é o De Nieuwe Anita, que segue o mesmo modelo : público intelectual/descolado, decoração "sala de estar", etc, etc. Em São Paulo, o Astronete parece ter um acervo fantástico para exibir e o CB abre o espaço para curtas-metragens, mas o mais pitoresco de todos é o Bar do Museu. Num prédio comercial entre o Copan e o Edifício Itália, onde você tem de se registrar na portaria para acessar a sobreloja e só pode entrar até as 21h. O bar é um pedaço de décadas passadas preservado, da mobília sóbria e coisas como "drink de vinho" no cardápio ao barman, um senhor de cabelos grisalhos e modos discretos. O filme do Cineclubinho é exibido numa TV grande, posicionada perto da entrada. Na terça retrasada, assisti ao documentário "Botinada! A Origem do Punk no Brasil", do Gastão Moreira. Coincidência felicíssima, já que esse é um dos filmes que eu queria MUITO ver (e é ótimo - um grande trabalho de pesquisa associado a depoimentos de boa parte de quem fez essa época. Quase um "Please Kill Me" brazuca). Além do clima legal, ainda rolou uma pipoca básica pra todos. Genial.

April 09, 2007

Fui com a Dani assistir ao incrível "El Laberinto del Fauno", do Guillermo del Toro - um cineasta com um histórico de filmes ótimos em todos os gêneros, sempre com um pé no fantástico e no sombrio. Faunos, fadas, reinos encantados? Sim, mas muito mais Perrault do que Grimm : cruéis, monstruosos, ambíguos, saídos de um quadro de Hieronymus Bosch. E ainda assim não se comparam ao homem, cuja deformidade é interior...Sergi Lopez comanda.

(esse é um filme que deve ser visto no cinema. Telinhas não fazem jus à cinematografia impressionante)

(Cinesesc lotaaado. Claro, bota o ingresso a 4,00/2,00 meia-entrada pra ver se não enche qualquer sala. Cinema em SP é um absurdo de caro)

April 08, 2007

Apesar de não ter sido inicialmente o motivo principal desta minha vinda, foi certamente a mais importante no final das contas : ter o prazer de ver a shooshoo casar numa cerimônia informal e original, entrando linda de branco ao som de "I'll Be Your Mirror" do VU, com o escocês de kilt mais fofo desde o Ewan McGregor (haha!), num lugar lindo e cheio de verde. E quando o "celebrador" invocou os ventos do leste para abençoar a união e o ar realmente se moveu de leve, fazendo pousar uma folha sobre o tapete, eu tive certeza de que tudo está em seu lugar. Vou sempre lembrar desse momento. Damsel and Troubador,

Mìle fàilte dhuit le d'bhréid,
Fad do ré gun robh thu slàn.
Móran làithean dhuit is sìth,
Le d'mhaitheas is le d'nì bhi fàs.

Translated as:
"A thousand welcomes to you with your marriage kerchief,
may you be healthy all your days.
May you be blessed with long life and peace,
may you grow old with goodness and with riches."

(Scottish blessing)

Love,
Fairy

April 06, 2007

Você pode tirar uma pessoa de São Paulo, mas não pode tirar São Paulo da pessoa, parafraseando o ditado. E é por isso que não consigo deixar de achar a Holanda, mesmo com sua beleza, localização no continente europeu, relativo primeiro-mundismo, shows legais, acesso fácil a música/livros/filmes, preocupação ambiental, etc, etc - um verdadeiro marasmo. Não sei se as pessoas estão muito acostumadas a receber tudo pronto, a ter tudo muito fácil na mão, mas eu tenho a séria impressão de que ninguém faz nada de novo, de ousado ou simplesmente diferente. Em Amsterdam pelo menos. É tudo muito pequeno e homogêneo e estável. Sinto falta da diversidade daqui, da vontade de realizar que gera lugares novos, atividades novas, bandas novas, escritores novos, projetos novos. Ouvi algumas críticas aqui dizendo que o paulistano descolado tem uma necessidade meio doente de achar sempre a última novidade, de se manter sempre adiantado ao resto do mundo, de ficar inventando moda. Mas não consigo achar o que tem de errado nisso. É movimento, é vital. Principalmente numa época em que a informação é instantânea, ninguém tem desculpa pra se manter fechado, a não ser por convicções filosóficas particulares (N.T: virar eremita).

Nunca fui de pertencer a grupos, tribos ou panelinhas no Brasil, mas percebo que mesmo sem querer acabava sendo associada a alguma, seja pelo meu jeito de vestir, meus gostos ou atividades. E também que agora uma das coisas que me faz falta na Holanda é identificação. Qualquer uma. Não dá pra manter relacionamentos baseados em generalidades, a amizade não vai mais fundo. Ninguém me desperta curiosidade nas ruas, nos shows, nos bares. Bato o olho e já sei como a pessoa é, principalmente os holandeses jovens. Vejo aquelas pessoas bonitas, saudáveis e sem conteúdo especial, sem preocupações, sem questionamentos. Querem diversão, mas ninguém tem uma paixão, todos gostam de tudo mais ou menos. Não importa se o show é punk, ska ou pop, se o filme é finlandês ou canadense - a platéia é sempre parecida, todo mundo vai em tudo, todo mundo se veste parecido, todo mundo é IGUAL. Claro, existem exceções. Mas nunca entrei num lugar em Amsterdam que eu sentisse "ah! Aqui é meu lugar", a não ser minha casa. Nunca pensei que fosse reclamar de ser literalmente "one of a kind", mas o legal não é ser a peça diferente no meio da massa, e sim todo mundo ser peças diferentes umas das outras.

Definitivamente, ô povo chato.

Em compensação, fui ver um filme esperando ser arrebatada e no final das contas nem saí do chão. Fiquei surpresa, porque algo com Daniel Auteuil, Sabine Azéma e Sergi Lopez não poderia dar errado. Mas "Peindre ou Faire L'Amour" consegue. Não que seja ruim, mas é vazio. Não diz absolutamente nada. Desperdício de belas paisagens e de um elenco brilhante. Não existe problema, solução ou qualquer questionamento, só hedonismo puro. Ver um casal de meia-idade que se ama visivelmente, tem muito dinheiro e nenhum problema em suas vidas encontrar um outro casal peculiar e começarem uma relação a quatro onde todo mundo vive feliz e muda de casa quando quer, qual a graça? Pra que fazer um filme sobre isso?

Dei uma sorte imensa e o Festival dos Melhores Filmes que acontece no Cinesesc todo ano está rolando bem agora! Hoje consegui ver "Me and You and Everyone We Know", um dos meus erros de julgamento felizmente corrigido a tempo. Quando vi o trailer ano passado, fiquei com birra imediata, pensando "Caralho, mais um filme pseudo-Solondz, com freaks sensíveis e cores chapadas". Ui, errei. Não quanto aos freaks sensíveis e às cores, porque eles estão lá mesmo, mas definitivamente não é Solondz. Sabendo-se que a Miranda July tem um background em arte/videoarte, fica mais fácil entender como ela faz até mesmo pequenos clichês terem um enfoque um pouquinho só torcido. E personagens com complexidades inesperadas - e nada comuns. E para o cinema indie americano, que está começando a repetir alguns vícios do mainstream hollywoodiano (do que este filme também não escapa), é uma boa lufada de ar fresco.
Claro, não é uma obra-prima, mas tem frases ótimas, momentos visuais geniais e a Miranda July lembra uma Juliette Lewis simpática com roupinhas fofas. E acima de tudo, despretensioso. Só por isso já vale.

April 02, 2007

No sábado, me senti como se tivesse voltado no tempo - amigos ligando como se eu nunca tivesse partido, convidando pra festas do amigo do amigo do amigo, passando na casa de um e de outro pra bater papo, andando de carro pela Vila Madá escapando dos congestionamentos por dentro da Vila Beatriz, fazendo caminhos que percorri tanto há 15 anos e ainda lembrar perfeitamente deles. O único sinal de que o tempo passou era a minha preguiça de sair de casa, mas mesmo ela sucumbiu eventualmente (e O QUE ACONTECEU com o Bar das Empanadas? De boteco com B maiúsculo virou um bar fresco, com toldo e mesas de madeira! Cadê as cadeiras de metal com marca de cerveja? Merde!). Festa num karaokê na Liberdade (eu sei que é tendência, mas a aniversariante faz essa festa há anos no mesmo lugar, tá?), vinho, cerveja e outros abusos até muito tarde.

O curioso é que tudo isso desta vez foi ao redor de amigos primariamente do Akira, e com quem eu não imaginava sair SEM ele. Acho que de certa forma me adotaram. As pessoas com quem eu saía há 15 anos? Nem sei por onde andam (er, isto não é um pedido de informação. Não saber do paradeiro de certas pessoas é intencional).

Na verdade, percebo agora que estive fora por 15 anos.

Fez uma semana que estou aqui, mas parece um mês. Muita atividade e muita gente, mesmo eu tendo prometido a mim mesma ficar sossegada.
Depois do CCBB fui fazer uma sessão de acupuntura com um médico coreano. Nunca tinha feito, achei curiosíssimo ele apertar uns pontos no meu corpo que doeram terrivelmente, e depois de colocar agulhas a dor sumir. Fora o fato dele conseguir dizer que eu estava com um problema no aparelho digestivo apenas avaliando meus dedos da mão.
Aproveitando que a Kris estava aqui em SP, já a arrastei junto pra encontrar a N e a Sabina, e sem querer acabamos voltando pra casa só às 3 da manhã. Na verdade, sem perceber. Quatro mulheres+cerveja = 6 horas de blábláblá ininterrupto. Ainda bem que a Choperia Liberdade fecha só às 5 e anda menos hype que ano passado, e portanto mais tranquila.

Na quinta fui até o velho e bom Gemini assistir "Fur : an Imaginary Portrait of Diane Arbus", do Steven Shainberg, que dirigiu o ótimo "Secretary". O título diz tudo, e os créditos iniciais reforçam : não é uma biografia, e sim ficção. Sobre como a fotógrafa Diane Arbus, conhecida por seus retratos impactantes, subitamente se vê obrigada a encarar e admitir seu fascínio pelo incomum depois de um encontro com um vizinho misterioso - o Chewbacca. Não, na verdade era o Robert Downey, Jr. Ou será um novo "Beauty and the Beast"? :) Bah, não deixem essa minha descrição espantá-los.

Evidentemente a estética pula em primeiro plano de forma até primária, com contrastes claros entre o asséptico mundo "normal" e o colorido mundo dos freaks. A própria escolha da Nicole Kidman para o papel título - aquela beleza assombrosamente inumana, tanta perfeição externa ocultando uma alma-aberração - foi uma jogada interessante. O que me enche um pouco o saco nela é aquela interpretação marilyniana de mulher infantilizada pro qual ela apela quando não tem uma personagem forte o bastante em que se apoiar.

(fui ver esse filme apostando que nem ia passar na Holanda, mas acabei de ver que vai estrear em junho lá. Oh well)

Enfim, não é um grande filme ("Secretary" é infinitamente melhor e mais interessante), mas curto o conceito de criar um "prequel" imaginário para um personagem real. Conhecimento prévio da obra da Arbus é recomendável.