April 06, 2007

Você pode tirar uma pessoa de São Paulo, mas não pode tirar São Paulo da pessoa, parafraseando o ditado. E é por isso que não consigo deixar de achar a Holanda, mesmo com sua beleza, localização no continente europeu, relativo primeiro-mundismo, shows legais, acesso fácil a música/livros/filmes, preocupação ambiental, etc, etc - um verdadeiro marasmo. Não sei se as pessoas estão muito acostumadas a receber tudo pronto, a ter tudo muito fácil na mão, mas eu tenho a séria impressão de que ninguém faz nada de novo, de ousado ou simplesmente diferente. Em Amsterdam pelo menos. É tudo muito pequeno e homogêneo e estável. Sinto falta da diversidade daqui, da vontade de realizar que gera lugares novos, atividades novas, bandas novas, escritores novos, projetos novos. Ouvi algumas críticas aqui dizendo que o paulistano descolado tem uma necessidade meio doente de achar sempre a última novidade, de se manter sempre adiantado ao resto do mundo, de ficar inventando moda. Mas não consigo achar o que tem de errado nisso. É movimento, é vital. Principalmente numa época em que a informação é instantânea, ninguém tem desculpa pra se manter fechado, a não ser por convicções filosóficas particulares (N.T: virar eremita).

Nunca fui de pertencer a grupos, tribos ou panelinhas no Brasil, mas percebo que mesmo sem querer acabava sendo associada a alguma, seja pelo meu jeito de vestir, meus gostos ou atividades. E também que agora uma das coisas que me faz falta na Holanda é identificação. Qualquer uma. Não dá pra manter relacionamentos baseados em generalidades, a amizade não vai mais fundo. Ninguém me desperta curiosidade nas ruas, nos shows, nos bares. Bato o olho e já sei como a pessoa é, principalmente os holandeses jovens. Vejo aquelas pessoas bonitas, saudáveis e sem conteúdo especial, sem preocupações, sem questionamentos. Querem diversão, mas ninguém tem uma paixão, todos gostam de tudo mais ou menos. Não importa se o show é punk, ska ou pop, se o filme é finlandês ou canadense - a platéia é sempre parecida, todo mundo vai em tudo, todo mundo se veste parecido, todo mundo é IGUAL. Claro, existem exceções. Mas nunca entrei num lugar em Amsterdam que eu sentisse "ah! Aqui é meu lugar", a não ser minha casa. Nunca pensei que fosse reclamar de ser literalmente "one of a kind", mas o legal não é ser a peça diferente no meio da massa, e sim todo mundo ser peças diferentes umas das outras.

Definitivamente, ô povo chato.

9 comments:

Beth Blue said...

sei exatamente do que está falando, vivo aqui há 13 anos e nunca consegui encontrar a minha turma (e agora já estou velha demais pra isso, rsrsrs). amo Amsterdã mas as pessoas realmente deixam muito a desejar. ainda mais para pessoas como nós, one of a kind. só posso então dizer: que bom ter encontrado você!

Annix said...

Awww! Same here! :)

lisa said...

vou falar por mim: eu preciso do novo pra sobreviver. é o meu ar. eu gosto de "push the limits", entende? acho que algumas pessoas sentem-se ameaçadas pelo novo. eu consigo ver oportunidades: de emprego, de evolução filosáfica, de vida etc. :)

GGUEDES said...

Concordo em gênero, número e grau.

Feliz Páscoa!

Beijos e namarië.

Anonymous said...

Se eu não consigo me encontrar nem em Marília, rsrs. Brincadeira. Eu entendo perfeitamente isso de "todo mundo é IGUAL". Same here. Irritante, né? Saudades de São Paulo. Beijo

Anonymous said...

Nossa Annix, nunca achei tambem que ia sentir tanta falta de São Paulo. Aqui tem umas coisas bem monótonas tambem. Mas, ces't la vie, ao mesmo tempo to conseguindo mais evoluçoes profissionais aqui em Buenos Aires do que lá...mas um dia , acho que voltamos!

Anonymous said...

Annix,

A Holanda tem uma coisa ultra-boring, mesmo em Amsterdã. Olho, por exemplo, para os prédios de Roterdã e penso num filme de Wajda - daqueles mais antigos. Tudo "massificantemente" igual neste país. Por isso meu consolo é a roça. E o que vem depois, 5Km além!
Beijos!

Anonymous said...

A autora do comentário anterior sou eu!
Beijos

Bebete Indarte said...

Bem-vinda ao tédio.
Meus primeiros anos de Holanda estava preocupada em brincar de casinha.
Agora que a casinha está pronta, não vejo a hora de sair dela correndo.
A Alice cresceu pra pegar a chave, e a porta encolheu pra chave passar.
Previsibilidade também é uma prisão pra mim.