October 06, 2007

Ler sobre a Aum Shinrikiyo me fez lembrar por que eu não tenho religião, e nunca tive. Também não condeno quem tenha, claro, mas o ideal seria que cada um filtrasse o que faz mais sentido para si, ao invés de abraçar completamente os dogmas e doutrinas que cada vertente apresenta. Ao mesmo tempo, entendo que a prova de fé mais exigida é justamente essa, a da aceitação cega - e algumas pessoas não têm escolha.

E eu vejo que o que atrai nas religiões e cultos é justamente essa desobrigatoriedade de pensar, de ter de estabelecer por conta própria o que é "certo" e "errado". Seguir preceitos E ganhar ainda por cima a "salvação", negocião.

Meu pai era uma pessoa especialmente cética, mas não desprovido de alguma fé (paradoxo? heh, todos somos). E quando eu e minha irmã nascemos, ele se recusou a nos restringir a qualquer religião pré-estabelecida, e nunca fomos batizadas ou qualquer coisa parecida. Que nós encontrássemos nosso próprio caminho e crenças quando pudéssemos. Ou quiséssemos.

Curiosamente, acabamos estudando a vida toda numa escola italiana, e consquentemente, católica. As horas das aulas de catecismo eram livres pra nós, juntamente com as crianças judias - eu passava todas na biblioteca, e não achava nem um pouco ruim, hahahaha.

Na época da Primeira Comunhão, eu obviamente me sentia um pouco de fora, porque afinal todos os coleguinhas estavam concentrados nisso, e as meninas usavam aqueles vestidos meio de noiva. Mas ao mesmo tempo sabia que não estaria confortável naquele meio, então nunca foi um trauma :)

Anos mais tarde, voluntariamente ou não, acabei entrando em contato superficial com vários tipos de religiões. Alguns me interessavam mais, outros menos. Li algumas histórias bíblicas, outras budistas, outras afro-cubanas e algumas espíritas, e achava tudo muito interessante. Mas a verdade é, eu acho que nunca estive em busca de respostas. Tudo que eu queria saber nesse campo, eu sabia instintivamente, ou chegava a conclusões próprias, depois de ler. Eu seria o pior alvo de uma seita, porque simplesmente eu nunca busquei respostas. Simplesmente acreditava naquilo em que acreditava, e pronto. Nunca nem sei de onde veio isso tudo.

Depois que meu pai faleceu, tive cada vez mais provas de que sim, existe algo sobre-humano e além da vida que conhecemos - e como nunca tive nenhuma base religiosa, tudo isso se acrescentou bem ao em que já acreditava. Conversei há pouco tempo com uma pessoa interessantíssima, que estuda teologia entre outras coisas. E vejo cada vez mais como é mais proveitoso analisar tudo a partir de um ponto de vista descompromissado. Acreditar em algo é uma necessidade do ser humano, mas religiões são algo criado por nós mesmos - não há nada de "divino" aí. Os mandamentos, regras, whatever, são regras de bom senso e convivialidade, nada mais. Rituais são criados para se manter a disciplina necessária ao comportamento social básico e, principalmente, para atender àqueles que necessitam de algo concreto para confirmar que sim, acreditam em algo. E também que pertencem a algum lugar.

Eu? Eu tenho medo só das interpretações que alguns fazem do que lêem e consideram sagrado. Aula de interpretação de texto neles.

6 comments:

Cris Ambrosio said...

Eu também não tenho nenhuma religião; pra mim não é uma coisa que me faça sentir melhor à respeito da minha vida nem nada assim, mesmo sendo para muita gente.

Eu particularmente acho bem mais interessante quando a própria pessoa desenvolve suas teorias ou crenças.

(Minha mãe fica meio horrorizada comigo quando eu falo que não acredito em deus, haha.)

bjs!

Unknown said...

Adorei o texto. Eu tb não tenho nenhuma religião definida, pois abandonei o catolicismo, me otrnei mezz-espírita e hoje sou religiosa do meu jeito...

lisa said...

quando eu crescer quero escrever bem como vc.

;)

bj!

Antonio Da Vida said...

Nossa, adorei o texto tb. Eu fui criado em uma família hiper católica, a minha avó tem uma estátua de Santo Antonio enorme no quarto. Estudei em colégio católico, tinha aula de religião e tudo. A fé católica está muito forte na minha origem, mas como não é de se espantar, a religião católica me decepcionou a tal ponto que já não me considero mais católico, muito embora continue tendo de certa forma a crença na Virgem Maria, em Santo Antonio, etc (tem coisas que nunca saem de dentro de vc, mesmo que vc queira). Hoje em dia não procuro mais religião. Li algumas coisas sobre o budismo que me agradaram bastante, acho que em termos de filosofia de vida é o melhor caminho a seguir, entre os caminhos religiosos disponíveis. Mas não me aprofundo no assunto. Nem sei mais se acredito na existência de Deus. Como disse Woody Allen, "não sei se Deus existe, mas se ele existir, está pregando uma enorme peça na gente". Acho que mais importante que acreditar em Deus e em qualquer religião que seja, temos que aprender a acreditar em nós mesmos. E aprender a aceitar as nossas limitações. Isso sim, já é tarefa para uma vida inteira.
XXX/A

GGUEDES said...

SIM! SIM! SIM!
Minha mãe era uma mulher de fé, de ler sobre todas as religiões e filtrar o que mais gostava. Eu cresci na Seicho-no-Ie, que Mainha frequentava muito quando eu era criança. Depois, connheci o Espiritismo e o Budismo e acho que os três se complementam muito bem. Quando me perguntam qual é a minha religião digo que sou Espírita, mas que não pratico.
Quando Mainha morreu (Deus, já vai fazer um ano!!!) tive a mesma sensação que você teve quando do falecimento de seu pai.
E, de fato, tem muita gente precisando de umas aulinhas de interpretação de texto. Principalmente como aquele padre que, convidada por amigas, eu vi a missa há alguns anos. Ele afirmou que filhos de pais separados iam para o inferno! Pode uma coisa dessa???

Annix, muito bom o teu post.

Beijos e namarië.

Madame Juju said...

e eu vou virar judia!