Acho que o assunto da última semana foi a minissérie "Capitu" - pelo menos entre meus amigos. Como a internet é o poço dos desejos do século XXI, acabei de assistir ao primeiro dos 5 episódios agora.
Já pela abertura, nota-se que é coisa boa : pelo menos, diferente do padrão da Globo. Mas o resto não deixa a desejar. As referências são inúmeras : Saura, Antunes Filho e, por que não, até "Il Gattopardo" do Visconti. Mas a influência inegável mesmo é Peter Greenaway. Da teatralidade nos textos ao tratamento da imagem como quadros estáticos, tá tudo lá. Um bom exemplo é um dos vídeos do Greenaway, "M is for Man, Music, Mozart", que vocês vêem aí abaixo - mas eu poderia dar vários outros. Coloquei também um trecho de uma montagem do Antunes para "Romeu e Julieta" pra vocês compararem.
Mas nessa riqueza também reside o problema : um excesso de estímulos visuais que acabam roubando o foco do texto. Que, convenhamos, já não é fácil. Linguagem de TV e cinema DEVE ser diferente da literária, sob o risco de se perder o ritmo - ou mesmo o sentido. Frases longas e rebuscadas decididamente não combinam com o circo de imagens que foi criado aí. E sem o sentido, como fica a história? A não ser que a intenção fosse mesmo desconstruir o romance de Machado em sensações - mas aí, então pra que usar o texto integralmente? Em alguns momentos funciona, em outros não.
Outro problema foi a visível diferença entre escolas de interpretação no elenco. Alguns puramente teatrais (o que combina com a concepção geral), outros com formação claramente televisiva, com uma informalidade se esgueirando nas enunciações que nos lembra, de repente, que aquilo é uma produção global. Não sei se esse contraste foi intencional, e não estou dizendo que um estilo é melhor que o outro, mas criou um certo desbalanço.
De qualquer jeito, achei ousadíssimo lançarem uma série TÃO cheia de conteúdo, numa linguagem tão anti-convencional para o grande público. E se uma das concessões para alcançar esse público foi transformar alguns pedaços de "Dom Casmurro" em longos videoclipes, que seja. É um bom começo.
(Foto: Divulgação/TV Globo)
December 14, 2008
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5 comments:
A musiquinha-tema fofa (Elephant Gun) já entrô pros favoritos. A abertura é show. A cena do cenário a giz no chão é maravilhosa. Gostei da fragmentação da história em mini-episódios, tipo cinema mudo. Mas não gostei da overdose visual.
A audiência no horário despencou e parece que, por isso, reduziram para 5 CAPITUlos (não sei qual era a previsão inicial).
E divinha quem também falô da Capitu essa semana (desancando, óbvio): http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/171208/mainardi.shtml
Teve mais uma coisa interessante nessa microssérie aí: o uso do digital foi BEM inteligente. O site é ótimo, bem informativo, tem trechos em vídeo, tem fotos, making of, leituras, personagens, teve ação interativa pro lançamento...
Bom ou não (não vi a série, só os trechos do site), eles souberam integrar a tv ao online. Que todas as produções sigam esse caminho, porque é o melhor mesmo...
Internet = poço de desejos!!! Adorei isso! E o Google é a lâmpada do Alladin!!! Ha ha ha!! Quanto à minissérie, realmente bebeu na fonte de Peter Greenaway, tens toda razão. Só assisti o último capítulo, mas deu pra perceber que a fotografia e figurino são impecáveis.
A overdose visual me incomodou. Mas, acima de tudo, acho que faltou espaço para a dúvida, que é o grande tema do livro. Não gosto de Maria Fernanda Cândido e acho que ela prejudicou a personagem. Amei a trilha sonora. Achei uma mini-série irregular. É isso.
Beijos e namarië
Então não foi só eu que notou a inspiração. Capitu é o "Prospero's Books" do Luis Fernando Carvalho.
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