Ok, então "Der Baader-Meinhof Komplex" não é propriamente ruim. Começa bem, situando o começo da RAF no zeitgeist turbulento dos anos 60, mostrando uma manifestação de estudantes contra o Xá Reza Pahlevi em Berlim sendo brutalmente reprimida, a movimentação política da época (que só deixa mais evidente a apatia generalizada de hoje em dia) e o clima de tensão predominante. Dá um ligeiro background nas histórias de Ulrike Meinhof e Gudrun Ensslin (mas bem ligeiro mesmo, só o suficiente pra apresentar o que elas deixaram pra trás. E mesmo assim, ligeiro demais). O tema é explosivo (ha), o elenco competente, a produção é excelente.
O que falhou, então? Justamente essa ligeireza excessiva, o ritmo inconstante e o que parece ser uma indecisão na hora de se retratar os terroristas. Eu entendi que o diretor tenha buscado talvez uma visão neutra, sem romantizar nem demonizar o bando, mas também entendi que ele não conseguiu. Ora ele ressalta a beleza, a juventude e o idealismo dos terroristas, e ora eles são completos babacas arrogantes auto-centrados com a ilusão de que estão fazendo algo grande pelo mundo, e não para seus próprios egos. Entre idas e vindas, bombas, atentados e assassinatos a sangue-frio, o foco se alterna entre "hip, edgy and daring contra o sistema" a "um dia de fúria", sem dar base pra nenhum dos dois, na verdade. Pra mim, eles foram babacas arrogantes do começo ao fim, e as pequenas tentativas de mostrar outro lado pareceram irritantes e perdidas.
É um filme para quem sofre de déficit de atenção. Seqüências curtas em várias partes do globo, com ação, histeria, explosões, entremeadas por citações em off de textos de Ulrike. Milhões de cenas desnecessárias, esse posicionamento esquizofrênico que não sei se é culpa do livro (não li), personagens que vão brotando do nada, e mesmo assim ficou arrastado. Certo, entendi que a idéia era mostrar como a situação foi saindo do controle com as gerações seguintes da RAF, mais violentas, mais radicais e mais afastadas da ideologia original (não é sempre assim?), mas sem entender de verdade as motivações do grupo (além da idéia de "precisamos agir") isso se perdeu.
Um ponto interessante foi o Horst Herold do Bruno Ganz como a única pessoa ponderada e lúcida nesse caso, com excelentes insights. Mas mesmo essa participação ficou diluída entre cenas repetitivas do quarteto principal na prisão e demonstrações infantis de rebeldia num campo de treinamento de guerrilha.
E o final...bem, concordo que é uma história difícil de terminar - especialmente porque ela vai muito além dos anos 70. Enfim, nesse caso não é culpa nem do livro, nem do filme.
Eu tinha grandes expectativas sobre esse filme - primeiro, porque há muito tempo que não vejo um filme alemão de que não tenha gostado. Todos a que assisti nos últimos anos estão na minha lista de favoritos. Segundo, porque teria sido foda se bem dirigido (o diretor Uli Edel é o mesmo de "Christiane F"). Terceiro, porque eu adoro o Moritz Bleibtreu. Mas enfim, pra quem tiver curiosidade, o trailer tá aqui. E se gostarem, vejam o filme - que, como eu disse, não é ruim. Mas alcança menos do que eu esperava, e me frustrou enormemente.
bônus - aqui, uma entrevista com a verdadeira ulrike, antes de chutar definitivamente o balde :
December 03, 2008
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7 comments:
looks like a cool blog wish i cud read it in English
what language is this?
Filme alemão recente e bom?
Baixe "Die Welle" já! Vi em Londres e passei umas horas comentando depois com o Rogério!
Tem Ramones na trilha :)
(diga pro cara que a língua do blog é o fataluco)
Ah... esse foi o filme... Vou ver não!
Beijos e namarië
"Die Welle" estréia no final do mês, tava mesmo programando ver ;) como eu disse, o Baader-Meinhof foi exceção - fazia muito tempo que eu não via um filme alemão fraco.
Gal, eu acho que vc ficaria frustrada com o filme, mas vai saber, né?
It's Portuguese, man.
Ha, o Moritz Bleibtreu. :P Nossa, desses aí eu gosto mesmo do Bruno Ganz, ator duca.
Nunca tinha ouvido falar nesse grupo, vou ler mais a respeito.
(Christiane F... Eu ouço coisas sobre o livro e o filme há séculos, mas não me atrai nem um pouco, sei lá ).
Haha...então era este o tal filme. Concidência que ele está na minha lista de filmes a assistir porque, como você, também tenho assistido bons filmes alemãs nos últimos tempos (a começar por Das Leben der Anderen, claro).
Hoje vou assistir um holandês em Haia, Bride Flight...vez ou outra eles até que aparecem com um bom filme então vou dar uma chance ;-)
beijos
A história da RAF é bem interessante, tem vários documentários que vc pode procurar, Cris!
Beth, o problema de "Das Leben der Anderen" é que é exatamente o material que Hollywood ama : drama, redenção. Praticamente um novo Schindler. É extremamente bem produzido, mas não é de mudar a vida de ninguém, no máximo fazer pensar "ah, se isso pudesse ter sido verdade". Pf.
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