Quando se sabe que se está para morrer, como lidar com o tempo que resta? Essa é a questão que move "Le Temps qui Reste", do François Ozon. Melvil Poupaud é Romain, um jovem fotógrafo que descobre ter um câncer em estágio avançado e resolve não fazer a quimioterapia. Confuso e assustado, não consegue contar a ninguém, a não ser à avó (a grande Jeanne Moreau) e a uma garçonete que cruza seu caminho (a sempre fofa Valeria Bruni-Tedeschi). Romain é humano até o último fio dos cabelos cacheados, assim como suas reações e sentimentos. O filme é lindo, muito simples e sensível. E triste. Putain, c'est triste.
Eu faria a mesma coisa. E gostaria que meu pai também o tivesse feito. Preferia que ele tivesse passado os seus últimos meses tranquilo, em casa, sentindo o gosto da comida, lendo seus livros, andando sem ajuda, a ter presenciado os efeitos de dose após dose de quimioterapia - náuseas, fraqueza, cansaço, alergias - que só ajudaram a abater mais rápido um organismo já comprometido. É certo, as dores excruciantes viriam de qualquer forma, porque é assim que o câncer age. Mas mesmo no torpor da morfina, eu gostaria que ele tivesse levado a lembrança de uma vida normal, e eu gostaria de ter guardado uma imagem dele sem sofrimento. Mas, como diz Romain, "a gente sempre espera um milagre".
July 31, 2006
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3 comments:
Te entendo totalmente...
Também te entendo. Mas eu não sei se aguentaria se não houvesse nem a mais leve esperança por um milagre. Ver minha mãe sofrendo é e sempre será a pior experiência de minha vida. O câncer é cruel. Algumas vezes eu penso que ele é um karma da humanidade para nos fazer lidar com a morte de uma forma diferente.
Sei lá.
Beijos e namarië,
Gal
É complicado isto, concordo com este lance de deixar fluir, é o principio do Taoísmo. Tem o lance também, de sentirmos que fizemos tudo quanto possível para evitar a culpa depois. Depende da crença de cada um também, se analisarmos sobre o ponto de vista niilista nenhuma das questões anteriores é correta e nem incorreta.
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