September 07, 2006

Ontem fomos ao Heineken Music Hall ver o Elvis Costello com a Metropole Orkest. O show é resultado da parceria no North Sea Jazz Festival de 2004, onde as músicas do velho McManus foram executadas em arranjos jazzísticos e orquestrais. Deu tão certo que virou disco (eu quero!).

O lugar é novo, talvez um pouco maior que o Palace em São Paulo (nem sei como se chama agora, da última vez que fui lá era DirectTV Music Hall, argh), com um pé direito alto e acústica razoável. Claramente feito pra shows de-grande-porte-pequenos-demais-pra-estádios, ou seja, a maior parte do espaço é uma grande pista. E o show era sentado. O que eles fizeram? Colocaram filas e filas de assentos. Todos no mesmo nível.

(a altura média das pessoas aqui é 1,80m. Vários passam bastante disso. Eu tenho 1,60m. Tenho que me conformar com o fato de que nunca vou conseguir enxergar direito um show aqui ¬¬ )

Comecei a achar que ia ser um grande mico. Comprei os ingressos há dois meses e mesmo assim, nossos lugares eram na fila 20, razoavelmente no meio. A fila na nossa frente estava totalmente preenchida por holandeses cabeçudos e altos, alguns comendo cachorro-quente, outros tomando cerveja. O casal do nosso lado eram uma mulher genérica e um homem imenso e gordo, carregando um pedaço de pizza de pepperoni (!) e um copo de cerveja. Ele sentou do meu lado. Sorte que as luzes se apagaram na hora que ele começou a comer, porque senão ele teria visto a minha cara de horror. Mas horror mesmo foi quando ele terminou...e começou a limpar os dentes com a unha. Rezei pra que ele parasse logo, mas ele devia estar com algum pedaço de pepperoni preso no maxilar inferior, e ficou cutucando entre os dentes lááá no fundo, enfiando o dedo o máximo possível. Discretamente limpando a mão na própria camisa (do lado oposto ao meu, graçasadeus).

A orquestra começou a tocar a abertura, um e eu resmungava com meus botões sobre o lugar, os vizinhos, a farofada, com medo do resto da noite. E aí o Costello explica que fez um arranjo pra esse show durante um dia chuvoso em Honolulu, e nos primeiros compassos eu já tenho um troço.

"All this Useless Beauty". Uma das minhas preferidas ever. Ouvindo aquela voz quebrada e característica cantar essa música ali, de repente, me senti a pessoa mais sortuda do mundo. O gordo do lado podia comer uma pizza quatro queijos inteira ali que eu não ia estar nem aí.

E o show foi realmente lindo. Rock 'n roll, jazz, pop, blues, todos se alternando, acompanhados por aquela grande big band ou pela cozinha básica. E aquela voz. Ouvi "The Birds Will Still Be Singing", "Almost Blue", "Alison", e não parava de me arrepiar. A maioria dos fãs do Costello não gostam de "She", porque foi a culpada da súbita popularidade dele entre um público, er, "indigno", mas eu tenho que dizer : ele canta muito bem essa música. O sucesso dessa interpretação da música do Aznavour não vem do nada.

Os arranjos de jazz me soaram muito Billy Strayhorn, por isso não foi surpresa quando tocaram "Blood Count", a última composição do Strayhorn, para a qual ele escreveu a letra. E realmente, é uma match made in heaven. As partes bluesy são influência do trabalho com o Allen Toussaint, certamente. A veia pop e rock 'n roll sempre estiveram lá, obrigada.

Depois do terceiro bis e quase duas horas e meia de show, a platéia continuou exigindo encore!. Ele, então, disse que a casa precisava desligar o som, mas ele iria cantar "acústico". E foi o que ele fez, cantou "Couldn't Call It Unexpected", sem microfone, sem acompanhamento. Foi impressionante, não se ouvia um pio do público. A certa altura, o piano entrou, também sem amplificação. E mais outro instrumento, e mais outro, todos emitindo seu som natural. Ele então convocou a audiência a cantarolar junto, e o silêncio se quebrou, finalmente. Foi um grand finale.

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