March 30, 2007

Nem acreditei na sorte de poder pegar os últimos dias da exposição do Anish Kapoor no CCBB. Lembro que quando li sobre a abertura no Sampaist fiquei surpresíssima : "Uau, Kapoor em SP? Que inveja! (e que orgulho!)"
O espaço do CCBB não é o mais adequado, com suas salinhas e escadas pra cima e pra baixo, mas é um problema ignorável. Na verdade, até que foi bom dar um tempo entre uma escultura e outra pra recalibrar os sentidos. Porque é assim - uma eterna contrariedade de expectativas e sentidos. Côncavos e convexos que estão ali, mas de alguma forma conseguem eludir os olhos mais atentos, coisas que estão mas não estão, tudo isso causa uma desorientação braba. Genial.

Outro ponto ruim é o despreparo do pessoal do CCBB. Uma das obras, a "Pillar", que fica bem na entrada, só faz sentido ao se entrar nela. E vcs acham que tem alguma indicação? Tem uma mocinha que fica plantada ao lado do tubo na porta, e ao ver vc se aproximar chegando da rua (afinal, ela está no meio da entrada) ela pergunta: "vcs vão entrar?". Claro que perguntado assim, eu nem imaginei que ela queria dizer "entrar na obra", e não "entrar no museu". E claro que ela deve receber milhares de olhares esquisitos, porque "entrar no museu" é exatamente a ação que todo mundo provavelmente está fazendo. Enfim, só percebi a confusão quando, saindo de lá, a gente parou de novo na porta pra olhar melhor a peça, e ela já pulou dizendo "não pode entrar com bolsa". Fiquei confusa de novo.

"Não pode entrar com bolsa? Mas eu entrei, e já estava até saindo..."

Enfim, finalmente os neurônios acordaram e entenderam ao que a moçoila se referia. E uau, ainda bem que entenderam. É entrar e de repente sua visão não fazer mais sentido, e sentir os olhos e o cérebro pensando "o que está acontecendo?". Quem puder, corre pra ver até o dia 01/04.

March 27, 2007

Aproveitamos pra almoçar ali mesmo, no Restaurante do MASP. A oferta de saladas diminuiu consideravelmente (ou talvez aos sábados o público seja menor, daí o cardápio reduzido), mas ainda é possível comer medalhão de filé ao molho de vinho tinto com purê de mandioquinha e outros acompanhamentos por 20 reais por pessoa. Eu curto o esquema cafeteria e os janelões, e sentar nas cadeiras da Lina Bo Bardi, por mais desconfortáveis que sejam.

No sábado, fui com minha mãe e irmã ao MASP ver a exposição "Goya: As gravuras da Coleção Caixanova", que apresenta a coleção completa das gravuras do artista espanhol. Dos "Caprichos" aos "Provérbios e Disparates" (clique nos links para ver, não dói) há muito que se observar - a técnica precisa, a crítica e o deboche, o macabro, a capacidade de isolar o dramatismo de uma cena dentre situações comuns, os personagens demoníacos de pesadelo. Não é à toa que Goya esteve sob a mira da Inquisição - o sofrimento e o grotesco me parecem representações do próprio inferno.



Aproveitamos pra rever o acervo do museu, que graças à visão incrível do casal Bardi, entre outros, permite aos brasileiros apreciar Renoir, Gauguin, Van Gogh, Delacroix, Picasso, Modigliani, Rembrandt, Frans Hals, Frans Post e tantos outros sem precisar ir a NY ou Paris ou wherever. Foram-se os painéis transparentes, e agora as telas ficam expostas de maneira convencional, e ainda faltam textos explicativos em outro idioma (e os visitantes internacionais, gente?), mas é uma visita impressionante ainda.

(e às terças-feiras o ingresso é gratuito, hein? No site não diz, mas na bilheteria tem um aviso)

Achei bonitinho uma dupla de rapazes olhando as obras e tentando situá-las temporalmente, e se dando conta que antes do Brasil o mundo já existia... :-)

"1500? Cara, o Brasil tava sendo descoberto na época que isso aqui foi pintado!"

(imaginem quando eles descobrirem o a.C.)

March 25, 2007

O André falou do Dean&Britta que acabou de sair num comentário lá embaixo, e resolvi ver qual é. É um Luna mais fofo e mellow. Me tira até a birra que tenho de parcerias marido-mulher.

E EU QUERO!

(Aliás, achei engraçado a tua surpresa do "Penthouse" estar na minha lista. Quando ouvi a versão de "Bonnie and Clyde" nos créditos finais do "Irma Vep" do Olivier Assayas eu pirei, corri atrás e esse álbum é uma das trilhas sonoras da minha vida desde então- isso faz exatos dez anos. Er, pensando bem é por isso mesmo que tu não sabia)

(Aliás 2, descobri que compartilho essa história do "Irma Vep" com uma pessoa que adoro e também não vejo há tempos)

(Aliás 3, o show do Luna em SP foi um dos momentos que guardo no coração pra sempre)

March 23, 2007

Cheguei! De novo naquele esquema agradabilíssimo de sair de casa, entrar num avião, assistir a 5 filmes e chegar em SP.

"Marilyn Hotchkiss Ballroom Dancing & Charm School"- oh não, mais um "Shall We Dance"? Haha, não. Na verdade é um filme bonitinho sobre "letting go", com um elenco poderoso (Robert Carlyle, Marisa Tomei, John Goodman, etc) e baseado num curta homônimo do mesmo diretor - cujas cenas aliás foram incorporadas ao longa, causando o fato curioso dos flashbacks serem realmente cenas do passado.

"For Your Consideration" - produção impagável do Christopher Guest satirizando a fauna hollywoodiana, o diz-que-diz, a guerra de egos frágeis e o massacre da mídia daquele lado de Tinseltown. Só bons comediantes, que trabalharam sem texto definido, improvisando de acordo com as linhas gerais de cada personagem. E depois acham estranho eu não dar a mínima pra Oscar e outras premiações.

"Breaking and Entering", do Anthony Minghella - Tenho a impressão de que o Jude Law sempre faz papéis meio parecidos : cara casado, bacana mas sempre infiel. Aqui, ele fica dividido entre a namorada de longa data que tem uma filha levemente autista e uma refugiada sérvia que tem um filho gentil mas problemático. O enfoque nas relações e na história pessoal de cada um deixa um ar melancólico que permeia o filme todo como uma neblina - eis um grupo de pessoas que não se sente feliz há muito tempo, nota-se.

"Relative Strangers" - Esse foi a minha pior escolha, mas mesmo assim não chega a ser péssimo. É óbvio, clichezento e o sotaque caipira da Kathy Bates vai e volta, mas ela e o Danny deVito são divertidos.

"Perfume : Story of a Murderer" - Fiquei com preguiça de ir ao cinema ver esse, então aproveitei pra conferir se o Tom Tykwer conseguiria botar um pouco de ânimo numa história que parecia maçante. Não conseguiu, na minha opinião - mas porque a história é meio maçante mesmo. Eu lembro que quando o livro estourou não tive a menor vontade de ler, então não sei dizer se foi uma boa adaptação. Visualmente, claro, é lindo, mas senti falta de um aprofundamento psicológico do Grenouille. Mas como a intenção foi de dar um tom fabulesco, e não de suspense, acho que foi coerente. Afinal, houve muito pouca ênfase nas mortes em si, o foco sendo a parte sensorial. E ele não é uma pessoa afinal, mas uma espécie de entidade mesmo. Enfim, foi um bom filme.

"Bobby" - Esse é outro que não me animou a sair de casa só pra isso. Não deu tempo de ver até o final, mas parece ser na linha do "The Queen". Apenas interações entre vários personagens e seus pequenos subplots pessoais, girando em torno de um acontecimento trágico. Gostei do clima sixties, mas o elenco recheado de estrelas me aborreceu um pouco - tipo, "na falta de outros atrativos, vamos colocar rostos conhecidos! Ninguém vai perceber que eles não precisam ser bons atores na verdade, porque os papéis não são isso tudo!".

March 21, 2007

Consegui terminar aquele livro detestável, o "The Corrections" do Jonathan Franzen. Algumas partes são boas, mas em geral ele é tão pretensioso, tem personagens tão desagradáveis e tantos elementos pseudo-cool jogados em 600 e tantas páginas que terminá-lo é mesmo um exercício de paciência ou de masoquismo puro.

(Eu sou paciente)

Non, Je Ne Regrette Rien
( C.Dumont/M.Vaucaire)

Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait
Ni le mal... tout ça m'est bien égal !
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
C'est payé, balayé,
Oublié... je me fous du passé !
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n'ai plus besoin d'eux
Balayés les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait
Ni le mal... tout ça m'est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies
Aujourd'hui, ça commence avec toi !

Um filme sobre Piaf tem de obrigatoriamente ser passional, caótico, melodramático. Uma vida tão intensa tem de ser contada em fragmentos, sem passado, presente e futuro, porque Piaf é imortal e atemporal (bravo Olivier Dahan!). A Marion Cotillard fez um trabalho impressionante, a ponto de eu começar a chorar quando ela começa a cantar "Milord", como se eu estivesse vendo a própria, mesmo sabendo conscientemente que não. E as lágrimas não pararam até o final do filme, duas horas depois. Ver a expressão de pura felicidade quando ela está com seu grande amor, Marcel Cerdan, ou o terror antes de entrar no palco antes de se tornar uma lenda, ou simplesmente seu olhar perdido num torpor de morfina, o corpo encarquilhado precocemente por reumatismo, a devoção dos amigos e fãs, e sobretudo aquela voz fantástica é o suficiente para fazer qualquer um acreditar que a vida tem de ser vivida assim, ao extremo, et sans regrets.

Mesdames et messieurs, La Môme Piaf!

March 18, 2007

Brinquedinho novo (yeah, I'm shameless!)



March 17, 2007

Eu nunca pensei que ia dizer isso : mas eu gosto de UMA música do Focus - Sylvia.

(se encolhendo pra desviar dos tomates)



(pra quem toca guitarra, atentem pro Jan Akkerman mexendo no controle de volume ao mesmo tempo que toca)

Aleás, se alguém quiser botar a própria listinha ou me recomendar alguma coisa, à vontade aí nos comentários, hein? ;)

Pra quem quer descobrir coisas novas em música, aliás, eu acho o Myspace interessante. E pra keep track das suas bandas favoritas também, uma vez que quase todas agora têm uma página lá. E com som, o que é fundamental (em streaming). O resto do site é uma droga, francamente, mas pra isso vale.

(e ainda tem músico que aposta em CD, venda, na indústria fonográfica, etc. Tsc tsc. Em vez da cabecinha deles entender que é hora de procurar/criar um outro meio de distribuição de música e formas de rentabilizar isso, e que NÃO vai ser possível acabar com a troca de arquivos paralela, eles continuam se lamuriando por aí - o que adianta ZERO)

Três coisinhas de que gosto bastante :

Devil Doll

Polysics

Mikabomb

Aaah. Sábado à tarde, Akira e eu já nos livramos das compras e estamos aqui ouvindo o "Abbey Road" dos Beatles, desenterrado numa arrumação dos nossos CDs e DVDs. O tempo está voltando a ficar cinza e frio, mas tenho um copo de vinho tinto e um pedaço de brie aqui, thank you very much. Vamos ficar bem ;)
Baixou um espírito Mojo-Rolling Stone aqui e comecei a pensar em várias listas, principalmente a dos 10 álbuns fundamentais pra humanidade - aqueles que todo mundo DEVE ouvir pelo menos uma vez pra entender o que se faz de música no século XX e XXI. É, dez álbuns é foda, mas a intenção é essa - o essencial do essencial. E eu sei que cada um tem a sua lista, mas a minha é essa aqui (sem ordem de importância, porque aí também é querer demais):

1. "Never Mind the Bollocks", Sex Pistols (1977)
2. "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", David Bowie (1972)
3. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", The Beatles (1967)
4. "Ramones", Ramones (1976)
5. "Elvis' Golden Records", Elvis Presley (1958)
6. "The Velvet Underground&Nico", The Velvet Underground (1967)
7. "Mr. Tambourine Man", The Byrds (1965)
8. "Blondie", Blondie (1976)
9. "Kraftwerk", Kraftwerk (1970)
10. "The Queen is Dead". The Smiths (1986)

Mas claro que eu fui tendenciosa, e só coloquei os álbuns de que gosto. "The Dark Side of the Moon", do Pink Floyd, por exemplo, é um que DEVERIA estar aí. Mas eu não gosto de Pink Floyd, e pronto, hahahaha. E também faltou um monte de coisa, tipo The Who, Zappa, fora os de jazz e outros gêneros - mas simplesmente não tô a fim de ficar a tarde toda aqui fazendo listas, não tenho a menoooooor tendência pra bibliotecária, então ficou uma lista meio "top of my head".
Aí deu vontade de fazer o top ten dos MEUS álbuns favoritos. Aí pegou, porque acho que não consigo parar no décimo. Mas enfim :

1. "Ramones", Ramones (também gosto do "Acid Eaters")
2. "The Rise and Fall of Ziggy Stardust...", David Bowie
3. "Rhum and Coca-Cola", The Andrews Sisters
4. "Post", Björk
5. "Clara Crocodilo", Arrigo Barnabé
6. "Blondie", Blondie
7. "Can't Stand the Rezillos", Rezillos
8. "Extreme Honey", Elvis Costello
9. "Le Tigre", Le Tigre
10. "Dig That Groove, Baby", The Toy Dolls

...
Tá, não consigo parar no décimo. Vou ver se no vigésimo pára.

11. "Penthouse", Luna
12. "The Velvet Underground&Nico", The Velvet Underground
13. "Peter, Paul and Mary - Ten Years Together", Peter, Paul and Mary
14. "The Monkees", the Monkees
15. "Mr. Tambourine Man", the Byrds
16. "We Are The Pipettes", the Pipettes
17. "Stray Cats", Stray Cats
18. "Ella Fitzgerald Sings Cole Porter - vol.1 and 2" - Ella Fitzgerald
19. "Made in USA", Pizzicato Five
20. "Música Ligeira", Música Ligeira.

Uf. Consegui, sort of. Deixei um monte de coisas de fora, mas acabei fazendo uma lista mais sentimental. Tipo um "o que levar para uma ilha deserta". E também fica claro que o meu gosto musical é mais velho do que eu, hahahahahaha. Quero dizer, das coisas de hoje até tem uns dois ou três que eu considero muito bons, mas ainda é uma relação nova. Não chegamos na third base ainda.

March 16, 2007

Entendendo a cultura holandesa.

(O autor é holandês, btw. Para quem mora aqui, muuuuuita coisa rings a bell. Pra quem não, acredite, é verdade)

March 15, 2007

Assisti também ao "Notes on a Scandal", basicamente um bom filme graças ao trabalho de duas atrizes excepcionais. Imagino que poucas conseguiriam não ser engolidas ao dividir a tela com Dame Judi Dench, e a Cate Blanchett me surpreendeu.

A trama cheia de subtextos psicológicos de certa forma me fez pensar no "Persona", do Bergman. A mesma relação de dependência, deception (não sei mais como seria em português - ilusão, enganação? Deve existir uma palavra mais adequada), jogo de poder, culpa, tensão (sexual, principalmente), o desejo de identificação, o isolamento. Claro, "Notes" é mais explícito e nos dá todas as informações para se entender a frustração e vulnerabilidade de Sheba (e com um menino daqueles, quem resistiria?), mas deixando as motivações de Barbara num nível de sugestão apenas. O que a torna mais aterrorizante, uma vez que ela parece ser puramente movida a obsessão/repressão, quase inumana.

Pra completar, esperando o bonde pra ir pra casa notei que um cara ficou me observando um tempão no ponto, ali na Leidseplein. Olhando de soslaio vi que era um holandês, alto e magro, de sobretudo preto. Bem-apessoado até, uma coisa meio Willem Dafoe. E ele ficou olhando pra mim (testei olhando pro alto, como se algo tivesse chamado minha atenção, e ele olhou pra mesma direção - e toda vez que eu virava o pescoço, lá estava ele olhando). Comecei a ficar inquieta e decidi que ia entrar por último no bonde pra poder ficar pra trás e ele não ver onde eu ia descer. Just my luck, a porta abriu BEM na minha frente, e não tive outro jeito a não ser entrar primeiro.
Fui sentar lá na frente, onde tinha mais gente, apesar de estar cheio de lugares vazios no fundo. Escolhi um lugar frente à "junta" do bonde, onde não há cadeiras na frente. E não é que a criatura me seguiu e ficou de pé, encostado na parede oposta ao meu banco, no espaço vazio da "junta"? Aí já peguei o celular e pensei em tirar uma foto dele por precaução, mas fiquei com medo dele notar e ter a idéia errada. Fiquei então mexendo com o celular, fingindo estar muuuito ocupada, e checando de vez em quando pelo reflexo na janela.
Chegando cada vez mais perto do meu ponto (um dos últimos da linha), e nada dele fazer menção de descer. Fiquei pensando se era melhor eu descer antes e esperar outro bonde. Mas e se ele descesse atrás? Liguei então pro Akira, que falou que ia me esperar no ponto, e fiquei mais aliviada. Notei também que depois que liguei, ele pareceu perder o interesse (não sei se por eu ter falado em uma língua estranha ou por ter ficado claro que alguém me esperava em algum lugar) e parou de olhar. Mesmo assim, esperei até o último minuto pra dar o sinal de parada, e levantei e saí o mais rápido possível. Quase tropecei na escada. Olhei pra trás, e ninguém desceu junto. Ufa.

Achei que fosse conseguir descansar em casa ontem, mas me vi correndo pra rua de novo, heh. Fui encontrar a Beth pra umas cervejas no Nieuwmarkt, e depois demos umas voltas. Fiz umas compras no mercado chinês (konnyaku, salada de água-viva de pacotinho, shimeji em conserva, enguia enlatada, essas coisas de que todo mundo gosta. Hee hee) e depois no nosso supermercado de surpresas, o Xenos (latas de tomate-cereja, mostarda, bouillon para pasta, chapati indiano).
Ela foi pra casa e eu passei na Body Shop pra uns cosméticos. Depois, ainda tinha umas horas pra matar e resolvi assistir a "The Queen", que me deixou dividida : por um lado, o desempenho da Helen Mirren e a narrativa são incríveis, sem firulas desnecessárias. Absolutamente precisos e sem excessos. Por outro, o assunto não me interessa nem um pouco - Família real britânica, Diana, etc. E ver um Tony Blair tão virtuoso foi irritante. E por mais que o Stephen Frears tenha tentado fazer um retrato uncensored da Rainha numa situação de crise, lado humano se digladiando com a figura pública, monarquia vs. modernidade, etc, a imagem dela acaba sendo mais do que enaltecida no final. Ou será que a Rainha é realmente essa figura admirável e digna? De qualquer forma, o personagem foi magnificamente criado, com nuances e profundidade. E achei divertido ela se comover mais com a morte de um animal do que com a da Diana. Que sempre achei uma dissimulada, e das grandes.

Os dias têm sido lindos, e Ruthinha e Andreia vieram nos fazer uma visitinha rápida. Então, repetindo o périplo da semana passada, andamos pela cidade toda. Com cada visita o roteiro é diferente, descobre-se uma coisinha nova aqui e ali, e é uma ótima chance de bater papo por horas com pessoas que não vejo há um tempo, fazer coisas junto. Na verdade, estou tendo mais oportunidade de reforçar laços com amigos queridos estando longe. Parece bizarro, mas é a velha história : quando é muito fácil, ninguém se esforça.
Além disso, as visitas vêm com espírito de férias, sem grandes preocupações, dispostas a provar coisas novas ou simplesmente relaxar, o que torna tudo duplamente agradável. Dá gosto revelar seus cantinhos favoritos para quem sabe apreciá-los.

(lembrei da minha prima americana, que diz que não gosta de viajar porque sente falta de ter todas as suas roupas à mão. By the way, you're not welcome, darling).

Fizemos fondue em casa, quantidades massivas de gruyère e emmental para quatro pessoas. Mais algumas garrafas de vinho, duas baguettes, umas bruschette de tomate com manjericão fresquinhos, and we're all set. And happy.

March 11, 2007

Gah. Lutei taaaaaanto pra não viciar. Não comprei nenhum número quando começaram a ser lançados no Brasil, há alguns anos. Ficava curiosa, mas logo esquecia. E vivia bem.

E aí, do nada, minha irmã me dá um dos pocket books do Strangers in Paradise. Fuck.

I'm addicted. Katchoo, Francine, David. A mistura de estilos de quadrinhos, de narrativas, de texto com imagem. O traço lindo do Terry Moore. As digressões surrealistas. As histórias dentro da história.Já li 4 dos 5 pocket books (preciso achar o 3). E agora eu quero comprar todos os 5936784 livros da série. Grr.

(I've got a soft spot in my heart for girls who kick ass. Katchoo does)

AGH!

Uia. Vai ter show do Ash em abril aqui. How 1996.

(claro que em 96, quando eu gostava deles, nem sinal de show. That's life)

March 09, 2007

Só para provar meu ponto, o fusilli com molho de calabresa que fiz ontem :

4 echalotes grandes, picadas
2 dentes grandes de alho, picadinhos
1 pimenta vermelha, sem sementes e picadinha
2 latas de tomates pelados em cubinhos (se forem tomates cereja, melhor ainda)
300g de linguiça calabresa sem pele, em fatias fininhas
sal e pimenta-do-reino
açúcar
salsinha picada
500g de fusilli, cozido

Refogue as echalotes e o alho em bastante azeite de oliva, em fogo médio-alto. Junte a pimenta e a linguiça, deixando fritar um pouco. Abaixe o fogo e adicione os tomates, tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Acrescente uma ou duas colheres-de-chá de açúcar (importante!). Prove (também importante). Jogue a salsinha picada, misture rapidamente em fogo baixo. Coloque o fusilli cozido e vire até cobrir toda a massa. Sirva quente.

Outra leitura dos últimos dias foi o ótimo "Kitchen Confidential", do nosso amado chef/apresentador/escritor/aventureiro/punk-rock/bocudo-mor - Anthony Bourdain. Minha irmã já tinha lido há anos, mas sei lá porque eu não dei muita atenção na época. Silly me.

(e para aqueles com sonhos ingênuos de ter um restaurantezinho e torná-lo uma extensão da sua sala de visitas - pfff - leiam e pensem duas vezes)

O travel/food show dele, o "No Reservations", é uma das únicas coisas que assisto na TV (as outras são : o "Kitchen Chemistry" do Heston Blumenthal; "Greg&Max", minhas bichas britânicas preferidas viajando pela América do Norte; e "The Diceman", um programa de viagem bizarro, onde os destinos são decididos por um dado - tá bom que eu acredito; e o Horror Channel. E só. É, meus interesses são viagens, comida e filmes trash. Ah vá), porque ele é petulante, insolente, adoravelmente egocêntrico e ele BEBE. Muito.

E gosta de Ramones. Gotta love that.

Pois então, o livro é um breve relato da trajetória dele no mundo das cozinhas (altos e baixos, muitos baixos) - entremeado com pequenas crônicas pessoais, informações práticas e exposição de podres em geral. Mas o que eu aproveitei mesmo foi o seguinte : "Shallots are one of the things...which make restaurant food taste different from your food" (p.80).

Amen, Tony.

Boa matéria da Arnild para o Terra, sobre a prostituição aqui. Que, assim como a legalização da maconha, é mais uma justificativa para se cobrar impostos+jogada de marketing do que uma atitude "liberal" do governo...

March 08, 2007

Mais uma bola dentro da Mojo : o CD que vem com a revista este mês é um tributo ao grande "Sgt. Pepper" dos Beatles. A maioria das versões teve um resultado bem legal, e mesmo as piorzinhas não ferem os ouvidos de ninguém. E claro, fecha com o "All You Need is Love" feita pelo Echo & the Bunnymen.

Como eu sou boazinha, resolvi upar aqui pra quem quiser. E como eu não sou tão boazinha, não tá em eme-pê-três, porque eu não tava com saco, vai em wma mesmo.

A grande perda da semana : Jean Baudrillard.

March 07, 2007

Como adorei o "What I Loved", da Siri Hustvedt, resolvi comprar o "The Blindfold", o primeiro romance dela. Beeeeeem...só tenho a dizer que os nove anos entre um e outro são a razão de "What I Loved" ser um livro excepcional e "The Blindfold" apenas interessante. Mas vale a leitura, a estrutura é curiosa. Partes diferentes que falam de períodos diferentes da vida da protagonista, Iris, sem ordem cronológica. Pequenas neuroses, obsessões, relacionamentos desequilibrados (e tão humanos!), personagens sem profundidade mas believable. Talvez eu não tenha gostado tanto porque eu tenho um problema com personagens que se deixam à mercê de seus medos e inseguranças, mas é inegavelmente bem escrito. Um pouco afetado, mas bem escrito.

E a mulher é casada com o Paul Auster, meudeusdocéu.

Erica, Pat e Mariana vieram passar alguns dias na cidade, depois de aprontar em Paris (aliás, amapoas e bees : tenho uma dica pra vocês. Vão ao bar Latin Corner, na rue de la Huchette, e peçam o Sperme du Serveur. Os garçons são todos des mecs bien, que atendem...sem camisa. E isso é só o começo ;).
Fiz o tour completo com elas, que pelo jeito adoraram tudo. E eu também, porque afinal elas são fofas e ótimas companhias.
Fechamos a temporada no Club 11, que mesmo sem programação especial eu sabia que elas iam curtir. Claro - difícil de achar, ambiente industrial-destroy, música boa, videoarte nos telões, carta de vinhos e cardápio criativo - e barato. Sem contar a vista da cidade. Easy.

E agora...descansar uns dias, que semana que vem tem mais visita. E na outra também. Ha.

March 03, 2007

Esqueci de falar, outro dia assisti a "The Prestige", do Christopher Nolan. Tá, tem Hugh Jackman e a Scarlett Johanssen, mas o Christian Bale ENGOLE os dois. Com mostarda e ketchup. O Michael Caine escapa um pouco. Christian Bale rules. Muito.
Achei bom, mas o negócio do passarinho que tem um irmão meio que entrega o final. Não que eu tenha percebido, claro.

Mas é claaaaaro que as músicas do "Music and Lyrics" são completamente legais e catchy : a trilha foi composta pelo Adam Schlesinger, do Fountains of Wayne.

OK, enough with the serious stuff. Esgotei a minha cota de assuntos sérios equivalente a três anos, então em 2010 eu continuo. Maybe.

(invisibilidade social? What was I thinking?)

Quinta fomos à dentista (e eu não me conformo with that freakin' loose hair. Ela é boa, mas dentista de cabelo solto eu só vi aqui na Holanda mesmo). Depois ficamos passeando pela vizinhança, a Kinkerstraat. Fomos ao açougue que notoriamente vende picanha, e curtimos um breve momento de sadismo ao fazer a atendente holandesa dizer "picanha". Não compramos, mas é bom saber que lá tem mesmo (8,95 euros o quilo - o que é muito razoável). Comemos um sanduíche na chapa no Boer Geert, o que eu altamente recomendo. Pão quentinho e crocante, pastrami ou pernil no recheio, 2,50 euros cada. Yum.

Sexta foi como um sábado aqui em casa. Ficamos na cama até tarde (er, muito tarde), e só saímos para ir à feira. Passamos algumas horas comprando coisas gostosas e planejando o projeto gastronômico do fim-de-semana.
Um pedaço de bacalhau comprado na loja surinamesa por 4,50 euros rendeu 36 bolinhos de bacalhau absolutamente divinos, fritos até ficarem dourados, com pouca batata e muita salsinha. E tabasco.
Fizemos também caldo verde, aproveitando a vibe portuga, e um staple das casas da classe média brasileira : carne moída refogada com pimentão e cebola com arroz, hahahaha. Coisas tão simples e tão boas.
Hoje Akira cismou que tínhamos de ter uma panela de pressão. E lá fomos nós em busca de uma, nas lojas turcas do bairro. Encontramos uma bem legal por 30 euros. Nossa primeira panela de pressão, hahahaha. Nunca pensei que teria uma.

(não por ser inacessível, mas por nunca ter tido o hábito de comer feijão, que é o maior motivo pra se ter uma)

Hoje fizemos feijão, with the works. Farofa, vinagrete, costelinha de porco defumada, carne-seca, couve, mandioca cozida. Hohohoho. Cozinhar em dupla rules. Amo tanto!

March 01, 2007

Wow. O post sobre boas maneiras (ou não) deu o que falar. Ainda mais com a contribuição do nosso Antonio, que é um verdadeiro lorde e sabe bem o que é ser educado ;)
O negócio é que educação não é relativa, pelo menos dentro do espectro de cultura ocidental caucasiana (que imagino ser a de todos que estão lendo isso aqui. Se tiver algum inuit, japonês ou maori aí my apologies in advance). Porque é baseada simplesmente em bom senso! Tratar os outros como você gostaria de ser tratado, com respeito, etcetera etcetera. Claro, cada cultura tem os seus quirks - fazer ou não barulho ao comer, apertar a mão ou dar beijinho, whatever. Mas no geral, tudo se resume em saber delimitar seu espaço e o dos outros, ter a percepção do outro como alguém diferente, mas igual. Acho.

Mas foi o comentário da Bebete na verdade que achei ótimo, porque me lembrou um outro assunto muito interessante, especialmente quando se é imigrante : a invisibilidade social.

Acho que todo mundo pelo menos já ouviu falar do livro "Cabeça de Turco", do Gunter Wallraf. O autor, alemão, passou dois anos vivendo como um imigrante turco na Alemanha. E nesse período pôde sentir na pele como é ser considerado um nada (lembro também de um estudo brasileiro sobre o mesmo assunto, cujo autor trabalhou como gari por um tempo e fez um bom estudo sobre os invisíveis brasileiros. Dei uma googlada e encontrei esta materinha pra vocês terem uma idéia).
Certamente, em sociedades "fechadas" como as da Europa Ocidental o imigrante é visto como um mal necessário, uma inconveniência que se deve aturar. Imigrante bom é aquele que faz seu trabalho e não se faz perceptível pelos nativos. Influenciar a cultura local, deus o livre! Se possível, que ELE a absorva, mas que não tente modificá-la.
(mas claro que isso é impossível, e tanto na Holanda como na Alemanha, pra citar dois exemplos, os maiores grupos de imigrantes deixaram bem suas marquinhas, ainda que guetificadas)

Mas o que dizer no caso de pessoas qualificadas, que falam mais de um idioma, conhecem outros países e culturas - como é o caso de quase todos os imigrantes que eu conheço aqui? Posso dizer que alguns têm até mais capacidade e vivência que a grande maioria dos holandeses nativos. Alguns têm até cidadania reconhecida - mas só no papel. Na verdade, aos olhos dos nativos, elas continuam sendo estrangeiras, estranhas e não menos indesejáveis. Se muito excepcionais, podem ser uma curiosidade, a novelty, le bon sauvage.

Mas sabem de uma coisa? Não se anulem. Não tentem "fit in", "blend in" demais. Respeitem as regras locais, mas não percam suas identidades. É o único jeito de ser respeitado pelo que se é, e não por se ser complacente. E um dia elaboro mais isso aqui, cansei.

HAHAHAHAHAHAHA
Akira acabou de perguntar do que eu tô rindo sozinha feito uma retardada.

(o "feito uma retardada" é acréscimo meu, btw - Ed.)

Aqui.

Too cuuuuuuuuuute!